PF deflagra operação contra grupo que usava teatro de rua para espalhar fake news eleitorais

A Polícia Federal (PF) deflagrou, na manhã desta quarta-feira (16), uma nova fase da investigação contra uma organização criminosa acusada de usar encenações teatrais nas ruas para disseminar desinformação durante o período eleitoral de 2024. A operação, que cumpre dez mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro, é um desdobramento da chamada “Operação Teatro Invisível”, iniciada em setembro do ano passado.
De acordo com os investigadores, o grupo contratava atores para se infiltrar em locais de grande circulação, como pontos de ônibus e mercados, e propagar falas ensaiadas com críticas ou elogios a determinados candidatos. Os textos eram roteirizados e treinados em galpões, um deles foi identificado e documentado pela PF como local de ensaio. Cada ator recebia cerca de R$ 2 mil por mês, enquanto os coordenadores do esquema ganhavam até R$ 5 mil.
A investigação aponta ainda que os mesmos integrantes estariam envolvidos em um complexo esquema de caixa dois, lavagem de dinheiro e fraudes em licitações públicas, com movimentações financeiras suspeitas que somam R$ 3,5 bilhões. Também foram encontradas provas de obstrução da Justiça e destruição de evidências digitais.
Entre os alvos da operação estão o prefeito de Cabo Frio, Dr. Serginho (PL), o deputado estadual Valdecy da Saúde (PL), que concorreu à prefeitura de São João de Meriti, e Araão (PP), candidato derrotado em Mangaratiba. Um dos arquivos apreendidos traz o nome “Valdecy campanha teatro”, e um vídeo do parlamentar o mostra agradecendo dois dos suspeitos por sua votação expressiva. Em nota, Valdecy afirmou não ter relação com o caso e que não é investigado formalmente.
Além das ações de rua, o grupo também é acusado de produzir conteúdos falsificados com aparência jornalística, inclusive vídeos adulterados com a imagem de apresentadores da TV Globo, como William Bonner, para dar credibilidade a fake news.
A PF determinou ainda o bloqueio de contas bancárias dos investigados e a suspensão das atividades de oito empresas envolvidas no esquema. A Prefeitura de Cabo Frio declarou, em nota, que ainda não recebeu informações oficiais sobre a operação e que prestará esclarecimentos quando houver dados concretos sobre o envolvimento do prefeito. As defesas dos demais citados ainda não se pronunciaram.
Por: André Zamora
Foto: Divulgação