Lobo-terrível: cientistas questionam impacto ecológico e real identidade dos filhotes ‘desextintos’

Uma empresa de bioengenharia dos Estados Unidos afirma ter trazido de volta o lendário lobo-terrível, espécie extinta há mais de 10 mil anos. O anúncio foi feito com a apresentação de três filhotes: dois machos, Rômulo e Remo, e uma fêmea, Khalese. Com apenas seis meses, os animais já pesam quase 40 quilos e despertaram tanto encantamento quanto polêmica.
Segundo a Colossal, empresa responsável pelo projeto, o DNA do lobo-terrível foi reconstruído a partir de fósseis de até 72 mil anos, e comparado ao genoma do lobo-cinzento. Foram feitas 20 alterações em 14 genes usando a técnica CRISPR, focando em características como tamanho, musculatura e cor dos pelos. Os embriões modificados foram gestados por cadelas domésticas.
Apesar do entusiasmo da empresa, que também tem planos de reviver o mamute, especialistas alertam que os filhotes não são lobos-terríveis autênticos, mas sim lobos-cinzentos geneticamente modificados. O projeto ainda está em fase de pré-publicação científica e não passou pela revisão de outros pesquisadores.
Ecologistas questionam o impacto de introduzir animais extintos em um ambiente natural moderno, muito diferente do habitat original. O lobo-terrível, por exemplo, era adaptado para caçar presas da megafauna, como preguiças gigantes e mastodontes, que também já desapareceram. “Que sentido faz reintroduzir um animal quando suas presas não existem mais?”, questiona Fernando Fernandez, professor da UFRJ.
Outro temor é que a iniciativa crie uma falsa sensação de segurança diante da atual crise de biodiversidade. “Espécies estão sendo extintas diariamente, e muitas não recebem atenção porque não são tão carismáticas quanto um lobo-terrível”, completa o ecólogo.
Ainda assim, a tecnologia pode ter aplicações promissoras. Um exemplo é o lobo-vermelho, com menos de 20 indivíduos vivos nos EUA. Quatro clones com genes compatíveis estão sendo criados para reforçar a população remanescente.
O projeto da Colossal chama atenção não só pelo ineditismo científico, mas também por seus investidores famosos, como o escritor George R. R. Martin, autor de Game of Thrones, que também atua como consultor da empresa. Avaliada em mais de 10 bilhões de dólares, a Colossal aposta na engenharia genética como solução para a preservação e até “ressurreição” de espécies.
Foto: Reprodução TV Globo