‘Big Bang’: astrônomo ironiza e dá nome para criticar teoria de que Universo teria surgido de explosão de energia

O termo “Big Bang”, hoje amplamente conhecido como a explicação mais aceita para a origem do Universo, surgiu de forma inesperada e até irônica. Foi criado nos anos 1950 pelo astrônomo britânico Fred Hoyle, que, na verdade, era opositor da própria teoria à qual deu nome.
Em uma palestra para a rádio BBC, Hoyle se referiu ao modelo que propunha que o Universo surgiu de uma explosão primordial como sendo fruto de um “grande estrondo” — ou, em inglês, Big Bang. A expressão pegou, apesar de não agradar a todos, incluindo o próprio físico George Gamow, um dos defensores da teoria.
Como nasceu a ideia do Big Bang
Na década de 1930, o padre e físico belga Georges Lemaître propôs que o Universo teria se originado de um “átomo primordial”. A ideia foi fortalecida anos depois por Gamow e seus colegas Ralph Alpher e Robert Herman, que imaginaram um gás denso que teria dado origem aos primeiros elementos químicos após um clarão energético — conceito que se tornaria a base do Big Bang.
Já Hoyle defendia outra explicação: o modelo do estado estacionário, que sugeria que o Universo sempre existiu e se expandia à medida que matéria nova era criada.
A rivalidade científica
A disputa entre os modelos se intensificou nos anos seguintes. Embora Hoyle tenha dado nome ao Big Bang, ele o fez de forma sarcástica, sem imaginar que o termo se tornaria o rótulo oficial da teoria que ele tanto criticava.
Essa rivalidade durou décadas. Hoyle continuou defendendo sua teoria e chegou a propor ideias polêmicas, como a panspermia — hipótese de que a vida na Terra veio do espaço — e até associou epidemias à passagem de meteoros, o que foi amplamente descartado pela ciência.
A virada com a descoberta da radiação cósmica
O cenário mudou em 1964, quando os astrônomos Arno Penzias e Robert Wilson detectaram a radiação cósmica de fundo, que seria a “assinatura” deixada pelo Big Bang. A descoberta consolidou de vez a teoria, levando até o jornal The New York Times a estampar na capa: “Sinais sugerem Big Bang do Universo”.
Curiosamente, um dos principais trabalhos de Hoyle — a teoria da nucleossíntese estelar, que explica a formação de elementos dentro das estrelas — foi incorporado ao modelo do Big Bang. Seu colega, William Fowler, chegou a receber o Prêmio Nobel de Física por essa pesquisa, mas Hoyle não foi reconhecido pela premiação.
Legado
Apesar das polêmicas, Fred Hoyle é lembrado como um dos grandes nomes da astronomia moderna — tanto por suas contribuições científicas quanto por seus 19 romances de ficção científica. E, mesmo sem querer, entrou para a história como o homem que batizou o nascimento do Universo.
Hoyle faleceu em 2001, mas seu impacto — tanto como cientista quanto como personagem da história da ciência — segue até hoje, eternizado até mesmo em uma estátua no Instituto de Astronomia de Cambridge.