AbraRio conquista autorização judicial para cultivar cannabis medicinal e expande planos de cultivo

Marilene Oliveira, fundadora da Associação Brasileira de Acesso à Cannabis Medicinal do Rio de Janeiro (AbraRio), em Niterói, tem uma longa trajetória de luta pela regulamentação da cannabis, um movimento pessoalmente importante para o tratamento de seu filho, Lucas, que sofre da síndrome de Rasmussen. Recentemente, Marilene conquistou uma vitória significativa: o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) autorizou, por unanimidade, que a AbraRio cultive cannabis para fins medicinais.

Com essa permissão, ela já traça novos objetivos, como aumentar o número de associados da entidade de três mil para dez mil e expandir a produção de cannabis para atender à demanda crescente.

“Foi uma surpresa feliz. Os desembargadores entenderam que nem a Anvisa, nem a União tem qualquer poder jurídico para punir a associação por nosso cultivo, pois não existe regulamentação sobre o cultivo no Brasil”, destaca Marilene.

A associação, localizada no Centro do Rio, agora tem permissão de pesquisar, plantar, cultivar, manipular, transportar, extrair, embalar e distribuir produtos à base de cannabis exclusivamente para seus associados, mediante prescrição médica.

 “Meu filho foi um dos primeiros casos de sucesso de tratamento por cannabis no Brasil. Ele começou a ter crises epilépticas aos 4 anos de idade. Lucas sofria cerca de 60 crises por dia, nenhum anticonvulsionante ajudava, e tinha muitas internações. Em uma delas, em 2014, ele passou 18 dias convulsionando e ficou em estado vegetativo”, conta a mãe.

Depois disso, Marilene buscou mais informações sobre o uso do óleo da planta para finalidades medicinais, e deu início ao tratamento de Lucas.

 “O resultado foi surpreendente. Meu filho voltou a andar, falar, passear de bicicleta, voltou para a escola. Foi aí que comecei a ajudar outras mães. Quando percebi, já existia um número gigantesco de mães que eu estava auxiliando. Foi quando decidimos criar a associação para nos protegermos judicialmente”, explica.

Marilene cultiva a planta em Cachoeiras de Macacu, no interior do estado, há pouco mais de dois anos e meio.

“Quando tive o primeiro contato com a cannabis, pude entender que era só uma planta, que não era esse demônio, e o benefício que ela trazia para a vida das pessoas era perceptível. Acredito que, por mais que tenhamos obtido uma vitória muito grande, ao mesmo tempo acho um absurdo ainda termos que recorrer ao Judiciário para fazer um trabalho como este”, conclui Marilene.

Por: Maria Clara Corrêa

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