‘James Brown do samba’: Wander Pires revela que topete ajudou contra depressão e conta com segurança para proteger cabelo

Em frente a um bar na Zona Norte do Rio, onde Wander Pires apresentou os maiores sambas da Viradouro em um evento de carnaval, uma roda se forma. São admiradores que anseiam por expressar-se, tirar uma foto ou gravar um vídeo. Talvez até consiga chegar bem perto do famoso topete da Sapucaí.
“Aí, não. Tem muitas senhoras que puxam pra ver se é de verdade. E esse negócio de botar a mão na cabeça é complicado, né! Eu só deixo meu cabeleireiro e minha mulher”, conta o intérprete da escola Vermelho e Branca de Niterói, e campeão do carnaval 2024.
Como ele avisa, é a mulher, Ana Paula Pires, com quem está há duas décadas, quem mexe no cabelo mais consagrado e famoso da Avenida. O curioso é que o tal topete nasceu no pior ano da vida de Wander. Em 2014, o cantor, então puxador da Imperatriz Leopoldinense, perdeu a voz no desfile. Foi detonado no Twitter, que o “aposentava” muito antes da hora. Logo ele, cujo grito de guerra é “A hora é essa”.
Wander foi internado num hospital e ficou 60 dias sem saber o que tinha. Sentia dores que nunca sentiu na vida, descobriu ser diabético através de seu pai de santo, gastou um dinheiro que não tinha, e muito se falou sobre com o que ele poderia estar. Até aids apareceu no “achismo” de seus detratores, que juravam que Wander estava acabado. Sem entrar em detalhes, o cantor se recorda de um período de depressão, e foi ali que decidiu raspar a cabeça.
“Estava com cabelo grande e pedi pra raspar a cabeça. Precisava. Dali, eu decidi que quando melhorasse, saísse dali, eu teria um cabelo que lembrasse um topete, assim, do James Brown. Foi uma inspiração”, relembra.
Não deu outra. Wander passou a cultivar esse topete com maestria. E a manutenção dá trabalho.
“Sou enjoado mesmo com ele, virou uma marca, cresceu bastante. Há dez anos não corto. Só raspo os lados e pronto”, descreve ele, que chega a precisar de seguranças para que ninguém se aproxime de sua cabeça.
Não por acaso, Wander se tornou uma figura emblemática para o carnaval carioca. São 31 anos em 2025. No último ensaio técnico no Sambódromo, vestido com suas casacas sempre brilhosas (a inspiração vem de Elvis Presley), ao soltar a voz, muita gente se cutucou: ‘É o James Brown do Samba”:
“Tem gente, que nas notas e agudos que eu dou, dizem que lembram o tom do Brown”.
Uma década depois de seu fundo do poço, Wander só tem motivos para comemorar. É o atual campeão do carnaval, a voz está limpíssima e ainda tem o auxílio luxuoso de Wandinho Pires, o filho de 16 anos, que canta junto com ele desde 2020, auxiliando no carro de som.
“Não vou mentir, não estou. Ele é minha segurança ali também, meu parceiro, com quem só troco o olhar e ele já sabe o que eu quero. Nossa parceria é incrível e me despedir disso, um dia, vai ser difícil. Mas é a ordem natural das coisas”, pondera.
Na hora em que Wandinho se separar do pai, outro filho pega esse bastão, Wander imagina. Wandrey Pires já canta em escola mirim e vez ou outra acompanha o pai. Todos sendo preparados para quando o próprio Wander decidir dar adeus ao carnaval.
“O carnaval me deu tudo o que tenho e me proporcionou ter uma família, cuidar dela e criar meus filhos para que, um dia, quando eles derem uma entrevista assim, possam dizer, sou cantor como meu pai e doutor”.
Por: Carolina Sepúlveda
Foto: rep/ instagram