Roubo de veículos explode no RJ: facções lucram milhões com esquema organizado

Em setembro de 2023, Bruno (nome fictício) foi vítima de um golpe que se tornou comum na Baixada Fluminense. Ao combinar a compra de um carro anunciado online, ele e o filho foram surpreendidos por três criminosos armados. Forçado a desbloquear o celular e transferir mais de mil reais, Bruno perdeu também seu Honda Civic. Esse caso é parte de uma nova modalidade de roubo que já registrou mais de 30 ocorrências apenas em Belford Roxo, onde 13 suspeitos foram identificados.

Belford Roxo lidera o ranking de roubos de veículos no estado, com 1.881 casos em 2024, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP). A região é epicentro de um problema que cresceu 39% no RJ em 2023, superando roubos a pedestres pela primeira vez desde 2004. Para o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, o aumento está ligado à expansão das facções criminosas, que usam os veículos roubados para financiar suas operações.

Investigadores apontam que o Comando Vermelho, por exemplo, movimentou R$ 20 milhões com roubos de carros e cargas. Os veículos são vendidos, desmontados para peças ou trocados por drogas. Recentemente, a polícia apreendeu um caminhão com nove veículos negociados pela facção. Além disso, cooperativas de seguros estão sob suspeita de pagar traficantes para resgatar carros e evitar indenizações.

A reincidência é outra marca desses crimes. Em Belford Roxo, um suspeito foi ligado a mais de 20 roubos. Já na Zona Oeste, Rodrigo dos Santos Rocha, de 18 anos, foi preso após nove roubos de carros de luxo, alguns avaliados em mais de R$ 200 mil. Ele integrava uma organização criminosa que usava armamentos pesados para intimidar as vítimas.

Desde setembro, a Operação Torniquete prendeu 350 pessoas, sendo 65% reincidentes, e recuperou 272 veículos, avaliados em R$ 21 milhões. No entanto, o envolvimento de menores e a dificuldade de acessar comunidades como Complexo do Alemão e Maré, onde o crime é organizado em “filas de roubo”, representam desafios adicionais.

“A legislação branda e a falha de outros setores da sociedade permitem que jovens entrem para o crime”, lamenta Curi.

Por: Beatriz Queiroz
Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo