Maduro manda indireta a Lula e diz que nas eleições de 2022 ninguém ‘se meteu com o Brasil’

Nicolás Maduro, o presidente da Venezuela, mandou uma indireta ao governo brasileiro e a outros países que questionam a decisão do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) venezuelano, que ratificou na semana passada a reeleição de Maduro para um novo mandato. Apesar da indireta, vale ressaltar que o mandatário venezuelano não citou diretamente o presidente Lula.

Em evento político para marcar um mês da eleição, ocorrida em 28 de julho, Maduro disse que “os gringos não têm moral para se meter nos assuntos eleitorais nem políticos da Venezuela”. O procurador-geral da Venezuela disse nesta quarta-feira (28) que o presidente Lula e Gustavo Petro, presidente da Colômbia, se intrometem nas questões venezuelanas.

A fala de Maduro faz referência à atuação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas eleições brasileiras em 2022. Diferentemente do que acontece na Venezuela, entretanto, todas as etapas do pleito no Brasil são acompanhadas por entidades, nacionais e internacionais, e partidos políticos. Ao fim do dia de votação, os boletins de todas as urnas são divulgados no próprio local de votação e são disponibilizados para conferência na internet.

Na Venezuela, as atas eleitorais, documentos que registram os votos e resultados de cada local de votação, não foram tornadas públicas pela Justiça eleitoral do país. O Supremo venezuelano também determinou que os documentos não sejam mostrados.

As eleições no Brasil foram, além disso, validadas por observadores internacionaisUm deles foi o Centro Carter, que também atuou na Venezuela. No país vizinho, considerou que o pleito “não atendeu aos padrões internacionais de integridade e não pode ser considerada democrático”. O instituto também afirmou que a autoridade eleitoral “demonstrou claro viés” em favor do atual presidente Nicolás Maduro.

Também atestaram a legalidade das eleições brasileiras o Tribunal de Contas da União (TCU) e uma missão da (OEA) Organização dos Estados Americanos. A OEA também não chancela o resultado divulgado pelo CNE e solicita pela publicação das atas.

Maduro utilizou o Brasil como exemplo para defender a decisão do TSJ, dizendo que a eleição venezuelana foi confirmada por uma Corte superior, assim como ocorreu no pleito que deu a vitória a Lula em 2022. O argumento foi o mesmo que a presidente da Corte e o presidente da Assembleia Nacional usaram.

“No Brasil, teve eleições e o presidente Bolsonaro não reconheceu os resultados, houve recurso ao ‘Tribunal Supremo’ de Brasil (TSE), que decidiu que os resultados eleitorais deram a vitória a Lula. Santa palavra no Brasil. E quem se meteu com o Brasil? Você fez um comunicado? (apontando para um membro da plateia) Você? Você? Venezuela disse algo? Dissemos apenas que respeitamos as instituições brasileiras e eles resolveram seus problemas internamente, como deve ser”, disse Maduro.

O Brasil não reconheceu o resultado do pleito venezuelano e cobra a divulgação das atas eleitorais, o que não ocorreu até o momento. O presidente Lula e o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, voltaram a cobrar no fim de semana que o governo Maduro publique as atas.

A decisão do TSJ, que além de confirmar o resultado anunciado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) também proibiu a publicação das atas eleitorais, foi realizada depois de uma suposta auditoria das atas eleitorais a pedido do próprio presidente. O CNE, equivalente à Justiça eleitoral venezuelana e aliada do governo, acatou a sentença do TSJ e confirmou nesta segunda (26) Maduro como vencedor do pleito.

Créditos da imagem: Divulgação/Commons

Escrito por: Rafael Ajooz