Assassinos de Marielle eram de “alta periculosidade”, afirma Lessa em novo depoimento
Nesta terça-feira (27), o ex-policial militar Ronnie Lessa disse que os acusados de matar Marielle Franco e Anderson Gomes em 2018 são de “alta periculosidade”.
Lessa, que confessou sua participação nos homicídios e é um dos delatores na investigação, prestou depoimento virtual no processo penal conduzido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O tribunal vai decidir se os irmãos Brazão e outros acusados serão condenados por supostamente atuarem como mandantes do crime.
O ex-policial, detido na penitenciária de Tremembé, em São Paulo, participou por videoconferência de um depoimento requisitado pela Procuradoria-Geral da República. O depoimento foi prestado ao juiz auxiliar do gabinete do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso.
O conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ), Domingos Brazão, seu irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão (Sem Partido-RJ), o ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa, e o major da Polícia Militar Ronald Paulo de Alves Pereira são os réus do processo. Todos estão presos e são acusados de homicídio e participação em organização criminosa.
No início do depoimento, a defesa de Lessa solicitou que os irmãos Brazão não estivessem presentes para acompanhar a audiência. Os advogados argumentaram que, por Lessa ser um delator, ele deseja preservar o sigilo de suas declarações.
“Não estamos lidando com pessoas comuns, são pessoas de alta periculosidade, assim como eu fui”, disse Lessa.
Em seu depoimento, Ronnie Lessa alegou que os irmãos Brazão o descreveram Marielle Franco como uma ameaça aos seus negócios ilegais de loteamento na Zona Oeste do Rio. Essa caracterização da vereadora como uma ‘pedra no caminho’ teria sido feita no início da trama para matá-la, revelando uma possível motivação política para o crime.
“Ela [Marielle] vai arrumar problema, vai combater os condomínios. Vai piorar quando souber que é nosso”, disseram os irmãos.
O delator alegou que os irmãos Brazão possuíam grande influência na Polícia Civil do Rio de Janeiro, chegando a afirmar que ‘tinham a polícia na mão’. Ele relatou que demonstravam ‘respeito’ ao mencionar Rivaldo Barbosa, outro réu acusado de participar do planejamento do crime e de obstruir as investigações.
Em seu depoimento, o ex-policial militar expressou arrependimento pelo assassinato, justificando sua participação pela promessa de lucros financeiros. De acordo com ele, os irmãos Brazão o tentaram com a oferta de dois terrenos, cujo valor total seria de R$ 25 milhões, como recompensa pela execução de Marielle.
“Eu estou aqui, arrependido. Não precisava disso, foi ganância. Estou vivo, sou testemunha viva do que aconteceu. Me deixei levar. Vou pagar o que devo. Meu arrependimento bateu no mesmo dia”
Por: Beatriz Queiroz
Foto: Arquivo OnBus