‘Organização criminosa funciona em parceria com policiais e políticos’, dispara Orlando Curicica em depoimento

Nas primeiras duas horas de seu depoimento dado nesta terça-feira (20), na audiência de instrução e julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, descreveu como atuam as organizações criminosas no Rio, a pedido da Procuradoria-Geral da República.

De acordo com Curicica, há uma ligação entre contraventores, policiais e políticos que, mediante pagamento de propina na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), no período em que os delegados Rivaldo Barbosa e Giniton Lages estavam à frente da especializada.

“O Rio tem uma organização criminosa que funciona em parceria com policiais e políticos”, disse Curicica, testemunha no processo sobre os mandantes do homicídio da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes.

Curicica, que é acusado de ser miliciano, afirmou que já respondeu a 15 processos, sendo 13 deles por não aceitar a proposta do então titular da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) de assumir a morte de Marielle, segundo os depoimentos que prestou ao Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Estado (MPRJ), à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal.

Ele relatou que foi escolhido para assumir o crime pois pretendia denunciar um bicheiro pelo homicídio de um amigo, o sargento da Polícia Militar Geraldo Antonio Pereira, executado em maio de 2016, numa academia de ginástica no Recreio. Na visão da testemunha, o contraventor teria pago à DHC para que ele não fosse ouvido e ainda o indiciasse por algum crime que não cometeu, o que ele denominou de “embuchamento”. Daí a tentativa da polícia, segundo o depoimento de Curicica, de acusá-lo da morte da vereadora.

Segundo ele, o delegado Giniton Lages, responsável pela primeira etapa do Caso Marielle pela Polícia Civil e acusado de obstrução da investigação pela Polícia Federal, o procurou em 10 de maio de 2018, na prisão, na intenção de propor um acordo.

“Ele chegou para mim e disse que a conversa seria papo de homem, e me falou: “O caso da Marielle é um furacão, e você está no olho do furacão. Estou aqui para você dizer que o Marcelo Siciliano (ex-vereador) te procurou e fez a proposta de matar a Marielle, e você aceitou. Nós queremos o Siciliano. Você vai ficar na carceragem da DAS (Delegacia Antissequestro), e vamos conseguir um perdão judicial para você”, relatou da Curicica.

Créditos da imagem: Divulgação/Commons

Escrito por: Rafael Ajooz