Após século de extinção, biólogos celebram nascimento de mais uma anta de vida livre no Rio de Janeiro

Neste mês de celebração do Dia Mundial de Conservação da Natureza (28 de julho), biólogos comemoram o nascimento de mais uma anta na natureza. Jasmim, reintroduzida em 2020 em Cachoeiras de Macacu pelo Refauna, com apoio do Projeto Guapiaçu — realizado pela Ação Socioambiental (ASA) em parceria com a Petrobras — deu à luz seu terceiro filhote. Este é o sétimo nascimento de anta de vida livre desde o início do projeto de reintrodução da espécie no estado, em 2017. A anta estava extinta no Rio de Janeiro há mais de um século.

A descoberta do filhote, com um mês de vida, foi possível graças à ciência cidadã — colaboração entre cidadãos e cientistas na coleta de dados para pesquisas científicas e ações de conservação. O primeiro registro do filhote foi feito pelo biólogo Manoel Muanis, que encontrou Jasmim e seu filhote durante um trabalho de campo para seu projeto “Wildlife and Reforestation in Brazil”, que monitora mamíferos na Reserva Ecológica de Guapiaçu (REGUA) desde 2018. Sem saber que se tratava de um novo filhote, ele compartilhou o vídeo com a equipe do Refauna e Ação Socioambiental.

“Estamos muito felizes com o sétimo nascimento de um filhote de anta. Jasmim veio do zoológico de Guarulhos, adaptou-se muito bem e tem mostrado um ótimo sucesso reprodutivo. Este é seu terceiro filhote desde que foi reintroduzida em 2020”, conta Joana Macedo, coordenadora de monitoramento de biodiversidade do Projeto Guapiaçu.

Desde o início do projeto, foram reintroduzidas 22 antas, das quais 14 se adaptaram bem e algumas já se reproduziram. Até agora, foram registrados sete nascimentos, incluindo o novo filhote de Jasmim.

O objetivo do projeto de reintrodução de antas no estado do Rio é estabelecer uma população mínima de 50 animais nas florestas do Parque Estadual dos Três Picos e Unidades de Conservação adjacentes. Para alcançar essa meta, várias parcerias foram formadas, incluindo zoológicos e criadouros que fornecem os animais para reintrodução na natureza.

Para o processo de soltura, as antas são transportadas em caixas especiais e levadas por caminhões da empresa MPFauna, com acompanhamento de veterinários e câmeras para monitorar o comportamento dos animais durante o percurso. A viagem é feita em baixa velocidade com paradas frequentes para que os animais recebam água e frutas.

Após um período de aclimatação em cercados, as antas são soltas e monitoradas por meio de armadilhas fotográficas e colares de radiotelemetria. Esses equipamentos permitem aos especialistas rastrear a localização dos animais, acompanhar seu estado de saúde, observar seus hábitos e monitorar sua reprodução.

No Rio de Janeiro, a anta estava extinta desde 1914, quando foi registrada pela última vez no Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Agora, as instituições trabalham para reverter essa perda.

“A reintrodução das antas traz de volta às matas fluminenses uma espécie com um papel ecológico vital, classificada como vulnerável à extinção devido à perda de habitat, fragmentação, caça e atropelamentos”, explica Joana Macedo.

“Esses animais são considerados ‘jardineiros das florestas’, pois desempenham um papel importante na dispersão de sementes e na poda de ramos e herbáceas, contribuindo para o plantio natural na natureza. Projetos de restauração ecológica devem apoiar a reintrodução de fauna extinta”, complementa Gabriela Viana, dirigente da Ação Socioambiental – ASA.

 

A coordenação e execução das atividades de reintrodução e monitoramento das antas é liderada pelo Refauna, enquanto o Instituto de Ação Socioambiental desenvolve atividades de restauração ecológica, educação ambiental e conscientização comunitária, além de auxiliar nas atividades de reintrodução e monitoramento dos animais por meio do Projeto Guapiaçu, em parceria com a Petrobras.

O Projeto Guapiaçu, realizado pela Ação Socioambiental – ASA, com apoio da Petrobras, visa melhorar as condições socioambientais da região da Baía de Guanabara e arredores, por meio de ações que integram ambientes e comunidades locais. O projeto promove restauração ecológica, educação ambiental, monitoramento de biodiversidade e reintrodução de fauna nativa. A área de abrangência inclui os municípios de Cachoeiras de Macacu, Magé, Itaboraí e Maricá, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, que tem passado por grandes mudanças na última década. Esta região hidrográfica é responsável pelo abastecimento de água de quase três milhões de pessoas na porção leste da Baía de Guanabara. A sub-bacia Guapi-Macacu se destaca pela disponibilidade hídrica em quantidade e qualidade para outras regiões.