Ramagem afirma que reunião foi gravada com ‘aval e conhecimento’ de Bolsonaro

O ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, afirmou nesta segunda-feira (15) que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deu “aval” e tinha “conhecimento” da gravação de uma reunião realizada em 2020. O encontro tinha o objetivo de traçar planos para blindar uma investigação sobre Flávio Bolsonaro (PL). Além de Bolsonaro e Ramagem, estavam presentes duas advogadas de Flávio, Luciana Pires e Juliana Bierrenbach, e o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno.

“A gravação aconteceu porque havia uma informação de que uma pessoa na reunião teria contato com o então governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, e poderia fazer uma proposta não republicana. A gravação seria para registrar um possível crime contra o presidente da República. No entanto, isso não ocorreu e a gravação foi descartada”, justificou Ramagem.

Em um vídeo publicado nas redes sociais, Ramagem afirmou que não cometeu nenhuma irregularidade, alegando que todos os presentes estavam cientes do registro. Ele ressaltou que as advogadas falaram “80% do tempo” na reunião. No áudio, os participantes discutem maneiras de livrar o senador de uma investigação da Receita Federal sobre supostos desvios de parte dos salários dos funcionários do gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) durante seu mandato como deputado estadual.

“As advogadas solicitaram o início de uma investigação por meio do GSI. Em todas as oportunidades da reunião, me manifestei contra isso. Afirmei que a inteligência não poderia tratar dados de sigilo bancário e fiscal, e que a atuação do Ministério do GSI nesse sentido seria prejudicial, inclusive para o general Heleno”, defendeu Ramagem.

Ele orientou a defesa de Flávio a buscar a Receita Federal para que possíveis irregularidades fossem apuradas em “procedimento interno administrativo, na forma legal”.

A gravação da reunião, com uma hora e oito minutos de duração, foi obtida pela Polícia Federal. Nesta segunda-feira (15), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, retirou o sigilo sobre a gravação e divulgou a transcrição do áudio.

Em nota, Flávio Bolsonaro negou qualquer irregularidade por parte de suas advogadas.

“Mais uma vez, a montanha pariu um rato. O áudio mostra apenas minhas advogadas comunicando suspeitas de que um grupo agia com interesses políticos dentro da Receita Federal para prejudicar a mim e à minha família. A partir dessas suspeitas, tomamos as medidas legais cabíveis. O próprio presidente Bolsonaro diz na gravação que não há ‘jeitinho’ e que tudo deve ser apurado dentro da lei. E assim foi feito. É importante destacar que até hoje não obtive resposta da justiça quanto ao grupo que acessou meus dados sigilosos ilegalmente.”