Estação do VLT em frente à Cidade do Samba é renomeada em homenagem à matriarca do samba, Tia Ciata
Na tarde desta terça-feira (9), a estação do VLT em frente à Cidade do Samba, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, foi renomeada como “Cidade do Samba Tia Ciata” em homenagem a uma das grandes matriarcas do samba e mãe de santo. A cerimônia de renomeação marca o centenário do falecimento de Tia Ciata que foi uma figura histórica que promoveu o samba carioca na região da Pequena África.
O evento contou com a presença de Gracy Mary Moreira, bisneta de Tia Ciata, e da equipe da Casa de Tia Ciata mantida pela família da matriarca na região da Pequena África, e por onde é fortalecido o legado de Tia Ciata, através de atividades culturais e formativas voltadas ao samba. A vereadora Thais Ferreira (PSOL), autora da lei que mudou o nome da estação, também esteve presente, juntamente com representantes do VLT e integrantes das escolas de samba.
Gracy Mary ressaltou a importância de sua bisavó e de outras mulheres negras para o surgimento e a resistência do samba e dos sambistas no início do século passado destacando como essa homenagem abrange também a diversas mulheres negras da historia da cidade.
“É o reconhecimento de uma mulher que foi a frente do seu tempo, e eu fico muito feliz com isso e quero outras homenagens também. Este ano é o cenetenário de Tia Ciata e teremos várias ações em torno disso, e essa é uma delas. A gente tem que massificar e mostrar quem foi essa mulher e a importância dela pra esse território da Pequena África, e a gente vê que não é só hoje, é o tempo todo que se respira Tia Ciata nesse território, falando sobre ela, refletindo as ações que ela tomou, essas ações afro diaspóricas. Quando a gente fala de mulher empreendedora, mulher de axé, mulher de atitude, mulher com assistência social, a gente se remete a Tia Ciata também. É uma valorização a Tia Ciata e a todas as mulheres negras que desbravaram esse país”.
Gracy Mary contou também sobre a valorização da memória da cidade através de nomes como o de Tia Ciata e outras matriarcas.
“É uma memoria ancestral que a gente cultua e vê na nossa pequena África e é essa memoria que traz Tia Ciata, Tia Bibiana, Tia Amélia, Tia Mônica, essas baianas que contribuíram e estão junto conosco. A memória tem que ser viva e constante”.
A herdeira da matriarca ressaltou como é importante a estação que da acesso a onde hoje se faz o carnaval das escolas de samba, o maior espetáculo da Terra, leve o nome de uma mulher que lutou e resistiu pelo ritmo e pela cultura que embasa este espetáculo.
“Colocar aqui em frente a Cidade do Samba, eu vejo como um reconhecimento ímpar de uma mulher que abrigou o samba e fez que tudo prosperasse. Em uma época em que o samba era marginalizado e a polícia batia, reprimia, que julgava o sambista como vagabundo. E hoje eles veem a importancia do samba não só do Brasil, mas para o mundo, e é através do samba que a gente conta as histórias dos nossos girôs, das nossas griôs”.
O projeto de lei foi protocolado por Thais Ferreira, que destacou a importância de manter viva a memória ativista de Tia Ciata. A mudança de nome da estação, após quase quatro anos, simboliza um marco histórico para a cidade do Rio de Janeiro.
“Trazer o nome dessa matriarca do samba, mulher negra, que já tem seus remanescentes que continuam atuando não só pela cultura, mas pela direito a cidade do Rio de Janeiro, para o VLT, simbolicamente em frente à cidade do samba, para a gente, foi uma lei de extrema importância para que a gente possa ter realmente esse marco histórico na cidade do Rio, respeitado a partir da perspectiva política da vida das mulheres negras, como foi Tia Ciata. Nós trouxemos a história dela na justificativa, falamos sobre essa questão do direito à cidade a partir da perspectiva das mulheres negras. Depois de quase quatro anos, essa lei toma não só forma na cidade, mas se torna concreta, de fato, com a alteração do nome da estação”.
Integrantes da Velha-Guarda do Salgueiro, diretor de harmonia e barracão da Tijuca, Alan Guimarães, e baianas da Viradouro, acompanhadas do presidente da escola, Hélio Nunes, também estiveram presentes e ressaltaram a importância do transporte para a Cidade do Samba. Eles elogiaram a homenagem a Tia Ciata como uma forma de manter viva a memória dos ancestrais e a contribuição deles para a cultura do samba.
Alan Guimarães comentou sobre como o transporte ajuda os trabalhadores da Cidade do Samba para vir para o local e para realizar as compras e outras necessidades de preparação das escolas.
“A gente que precisa estar sempre no Centro do Rio, que é o mercado onde a gente faz todo tipo de compra, isso aqui é uma mão na roda para gente, para a mobilidade dentro do centro do Rio de Janeiro. E esticando até aqui a Cidade do Samba, é de suma importância pra gente. Isso é uma memória que não pode, jamais, morrer. E esse tipo de homenagem, essa eternização, com mais uma situação envolvendo o nome da Tia Ciata, é muito importante porque os nossos ancestrais, as pessoas que passaram, que hoje deixaram os seus legados pra gente, é esse caminho que a gente precisa pra poder continuar”.
Juciara Maria Muniz, baiana da Viradouro, destacou que a resistência dos sambistas, inspirada por figuras como Tia Ciata, é crucial para manter viva a cultura e a religiosidade afro-brasileira.
“Nós sambistas, como a tia Ciata, somos resistência. Porque se não houvesse pessoas como a tia Ciata, como nós sambistas, isso tudo tinha morrido. Então nós estamos levando, ascendendo o povo preto, trazendo a nossa cultura, a nossa religiosidade, trazendo toda a nossa energia”.
Por: Carolina Cordeiro
Imagem: Divulgação