Empresas brasileiras valorizam habilidades práticas e flexibilizam exigência de diplomas na contratação

As empresas brasileiras estão repensando os modelos tradicionais de contratação. Antes, diplomas de instituições renomadas eram decisivos para garantir boas vagas, especialmente em áreas bem remuneradas como tecnologia. Hoje, habilidades específicas demonstradas na prática estão ganhando mais peso.
Segundo o relatório Future of Jobs (2025) do Fórum Econômico Mundial, 19% dos empregadores já consideram a eliminação da exigência do diploma e adotam contratações baseadas em competências para ampliar a disponibilidade de talentos até 2030. Gigantes como IBM, General Motors e Walmart já aplicam esse modelo em algumas vagas. No Brasil, essa tendência começa a crescer, com empresas adotando testes práticos para avaliar candidatos, segundo Jonathan Sampson, CEO da Hays América Latina.
A dificuldade crescente para preencher vagas na América Latina, relatada por 58% dos gestores no relatório Análise de Tendências & Salários 2025 da Hays, é um dos motivadores dessa mudança. Plataformas como a Timbre Social buscam ainda reduzir vieses nos processos seletivos, apresentando candidatos de forma anônima e priorizando competências em vez de currículos tradicionais.
Alessandra Nogueira, professora da PUC-Rio, destaca que essa mudança também reflete o comportamento da geração Z, que valoriza menos diplomas universitários. Muitas empresas de tecnologia capacitam talentos por meio de olimpíadas de matemática e cursos rápidos, oferecendo conhecimento formal posteriormente.
Elisa Jardim, gerente da consultoria Robert Half, observa que a pandemia acelerou a entrada de profissionais de outras áreas na tecnologia, o que forçou as empresas a flexibilizar a exigência de formação. No entanto, o ensino superior ainda é valorizado, principalmente em áreas técnicas, e a atualização constante tornou-se essencial.
A empresa Adapta, especializada em inteligência artificial, exemplifica essa mudança: entre 52 funcionários, apenas quatro têm graduação. O processo seletivo é conduzido pelos líderes dos times, que aplicam testes e promovem hackathons para selecionar candidatos com base em seis competências-chave, como criatividade e adaptabilidade. O foco é contratar profissionais polivalentes, capazes de atuar em várias funções.
Marcos Olliver Marcondes, da Deloitte Brasil, observa que muitos profissionais em transição de carreira vêm se destacando por desenvolver habilidades técnicas por meio de cursos especializados, independentemente da formação acadêmica inicial. A consultoria investe cada vez mais no desenvolvimento de jovens talentos com foco em tecnologia.
A trajetória de Jaqueline Martins, estrategista de produto na eSapiens, reforça essa realidade. Formada em arquitetura, ela migrou para tecnologia ao desenvolver competências fora da educação formal. Segundo Jaqueline, em processos seletivos, experiência e postura são mais valorizadas do que o diploma, mas ela não recomenda abandonar a faculdade, que ensina habilidades essenciais como comunicação e trabalho em equipe.
Por fim, candidatos devem estar atentos a falsas seleções que usam provas práticas para mão de obra gratuita. Avaliar a reputação das empresas é fundamental para evitar armadilhas.
Por: Carolina Sepúlveda
Foto: Criação O Globo