Clima extremo tem aumentado número de mortes evitáveis no Brasil e no mundo

Um estudo publicado em maio na revista científica Temperature revela como o calor e o frio extremos têm matado pessoas silenciosamente e de forma desigual. Ao analisar dados de mortalidade na Índia entre 2001 e 2019, pesquisadores identificaram que mais de 34 mil pessoas morreram por causas diretamente ligadas ao calor e ao frio intensos. A Índia foi escolhida como objeto de estudo por sua combinação de vulnerabilidades, alta densidade populacional, pobreza, urbanização desordenada e mudanças climáticas aceleradas, características que ressoam no Brasil.
As temperaturas extremas também têm impactado a saúde da população brasileira. Um estudo publicado em 2022 na revista Nature Medicine, com base em dados de 326 cidades de nove países latino-americanos, revela que cerca de 6% de todas as mortes urbanas estão associadas ao calor e ao frio extremos. A pesquisa mostra que, em dias de calor intenso, cada aumento de 1 °C na temperatura ambiente foi associado a mais 5,7% de mortes gerais, e que 10% dos óbitos por causas respiratórias podem ser atribuídos ao frio.
Com as evidências científicas e tragédias reais se acumulando, a atual gestão do poder público brasileiro retomou a agenda em busca de soluções. Em 2023, o governo federal lançou o Plano Clima, uma estratégia interministerial que orienta políticas públicas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas até 2035. Apesar dessas iniciativas, a enfermeira Lis Leão, pesquisadora sênior do Centro de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, do Einstein Hospital Israelita, e editora do livro Natureza, Clima e Saúde, pondera que os esforços ainda estão longe de formar uma resposta integrada e eficaz.
Por: Julia Medeiros
Foto: Reprodução/Arquivo OnBus