Exportador perde 585 toneladas de mel com tarifaço de Trump, mas EUA recuam e parte é enviada

As recentes medidas protecionistas adotadas pelo dos Estados Unidos, Donald Trump, causam instabilidade no comércio internacional. No centro da polêmica está o setor de exportação de mel orgânico do Brasil, que sofreu um duro golpe com o anúncio de tarifas adicionais impostas pelo governo norte-americano. Um produtor piauiense perdeu a venda de 585 toneladas do produto, destinadas a clientes dos EUA, após o chamado “tarifaço” entrar em vigor.
De acordo com a apicultora Antônia Lemos, a carga estava pronta para embarque e já havia sido negociada, mas os compradores americanos cancelaram a operação em cima da hora, alegando a elevação brusca dos custos de importação. A frustração foi imediata. “Foi um prejuízo enorme. É um trabalho de meses que acabou interrompido por uma decisão que foge ao nosso controle”, lamentou.
A medida adotada por Trump afeta diretamente as pequenas e médias cooperativas de apicultores no Nordeste, que encontraram no mercado externo uma alternativa rentável para escoar a produção de mel orgânico, produto valorizado por seu baixo impacto ambiental e alto valor nutricional. O Piauí, especificamente, é o maior exportador de mel orgânico do Brasil e tem os Estados Unidos como principal destino.
No entanto, em um desdobramento inesperado, parte dos clientes norte-americanos voltou atrás e decidiu seguir com as compras. De acordo com a Cooperativa Mista dos Apicultores da Microrregião de Simplício Mendes (Comapi), dois contêineres, contendo cerca de 46 toneladas de mel orgânico, finalmente foram embarcados neste domingo (14). A reversão da decisão ocorreu após negociações intensas e ajustes contratuais para minimizar o impacto das tarifas.
Mesmo com o embarque parcial, a apreensão continua entre os produtores. Segundo Francisco das Chagas, presidente da Comapi, o episódio mostra a fragilidade das relações comerciais com os EUA diante de decisões unilaterais. “Essa situação escancara a necessidade de diversificarmos nossos mercados e fortalecermos acordos com outros países”, afirmou.
A movimentação nos bastidores do comércio exterior segue intensa, com entidades do setor buscando apoio junto ao governo federal para mitigar os efeitos das tarifas e ampliar a presença brasileira em mercados alternativos, como a Europa e o Oriente Médio.
Enquanto isso, os apicultores piauienses seguem enfrentando os efeitos práticos do tarifaço: incerteza, prejuízos e uma crescente preocupação com a sustentabilidade de suas exportações. Mesmo com a recuperação parcial da carga, o episódio acendeu o alerta sobre os riscos de depender fortemente de um único parceiro comercial em tempos de instabilidade política internacional.
Por: Carolina Sepúlveda
Foto: Arquivo pessoal/Sávio Magalhães/TV Clube