Funcionários denunciam ‘rituais espirituais’ e assédio na Cacau Show, franqueada que expôs caso teve loja fechada

A Cacau Show, uma das maiores franquias de chocolates do Brasil, está no centro de uma série de denúncias que envolvem práticas internas consideradas abusivas e de cunho religioso. Relatos de ex-funcionários e franqueados apontam que o CEO e fundador da marca, Alexandre Costa, conhecido como Alê, lideraria rituais com características espirituais dentro da sede da empresa, em Itapevi (SP). As atividades, segundo os denunciantes, envolvem salas escuras iluminadas por velas, cânticos em grupo, e orientações para que os participantes fiquem descalços e usem roupas brancas.

Embora a empresa afirme que tais práticas são “vivências sensoriais com o líquor do cacau”, muitos funcionários relatam que havia forte pressão para participar. Quem se recusava ou demonstrava desconforto era submetido a um ambiente hostil, com perseguições e assédio moral. As denúncias incluem ainda episódios de homofobia, gordofobia e discriminação contra mulheres que desejavam engravidar. As acusações foram formalmente apresentadas ao Ministério Público do Trabalho, que já estaria apurando o caso.

Paralelamente, a franqueada Naíra Alvim, que criou o perfil “A Doce Amargura” nas redes sociais para denunciar o que chamou de “seita corporativa”, também alega ter sido alvo de perseguição direta da empresa. Poucos dias após a divulgação de sua identidade pelo portal Metrópoles, a Cacau Show rescindiu unilateralmente o contrato da franquia que ela administrava no interior de São Paulo, mesmo com uma negociação de venda da loja em andamento. Naíra afirma ter sofrido prejuízos financeiros significativos com a decisão, além de danos emocionais.

A empresa, por sua vez, afirmou que o contrato foi encerrado por descumprimento de cláusulas e por desinteresse na manutenção da parceria. Em nota, negou qualquer tipo de perseguição ou retaliação e reforçou que suas práticas respeitam a diversidade e a liberdade religiosa.

O caso tem repercutido amplamente nas redes sociais, levantando debates sobre os limites entre cultura organizacional e imposições ideológicas. A situação também coloca em xeque a imagem da marca, que há décadas é vista como exemplo de sucesso no setor de franquias brasileiro.

O Ministério Público do Trabalho segue investigando os relatos, e outras ex-colaboradoras da rede já se manifestaram publicamente corroborando as denúncias. Até o momento, a Cacau Show não anunciou mudanças em suas práticas internas, mas promete cooperar com as autoridades competentes.

Por: Carolina Sepúlveda 

Foto: Juliana Frug