Saudade: memórias afetivas podem ajudar a aliviar depressão, apontam especialistas

Estudos e reflexões da psicologia indicam que memórias afetivas resgatadas pelo sentimento de saudade podem atuar como instrumento de cura emocional, especialmente em quadros de depressão. A saudade, muitas vezes vista apenas como dor, pode funcionar como uma ponte para a reconstrução do bem-estar psíquico, reforçando vínculos internos e favorecendo a elaboração de perdas.

Segundo a psicóloga clínica e mestre em Gerontologia, Dorli Kamkhagi, as relações afetivas formadas nos primeiros anos de vida deixam marcas profundas em nossa construção emocional. Essas memórias iniciais podem ser reativadas positivamente em momentos de dor, como o luto ou crises depressivas.

No processo terapêutico, recordar momentos carregados de afeto – como o sabor de um doce da infância ou o som de uma música especial – pode trazer alívio e ajudar a reorganizar sentimentos de tristeza, solidão ou melancolia. A psicanálise, inclusive, diferencia o luto saudável, em que a perda é elaborada por meio da memória e do afeto, da melancolia, quando há dificuldade de se desapegar do objeto perdido, gerando sofrimento prolongado.

Kamkhagi ressalta que a saudade não está restrita à ausência de pessoas: pode vir da infância, de um lugar, de uma rotina, de cheiros e sensações que nos conectam ao passado e nos ajudam a entender quem somos. Nesse sentido, reaprender a sentir saudade pode ser um caminho para fortalecer a saúde mental, emocional e social.

“Recordar e elaborar nossas lembranças é parte fundamental da nossa saúde psíquica. Talvez o que nos cure seja justamente o que um dia nos tocou com amor e presença”, afirma a especialista.

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