Quebra de sigilo em conclave pode gerar punições internas, diz especialista

O conclave papal, cerimônia que define o novo líder da Igreja Católica, permanece oculto em mistério e tradição, principalmente devido ao rígido juramento de silêncio imposto aos participantes. O objetivo é preservar a integridade do processo e garantir que as decisões sejam tomadas sem interferência externa.
Em entrevista à CNN, o especialista em assuntos do Vaticano Raylson Araujo explicou que, embora raramente discutidas publicamente, existem consequências para aqueles que violam esse voto de sigilo. “As punições podem variar dependendo da posição do indivíduo dentro da hierarquia eclesiástica”, afirmou.
Entre os funcionários com funções operacionais, como limpeza e apoio, a sanção pode ser imediata. “A violação do sigilo pode resultar em substituição imediata ou demissão”, detalhou Araujo.
Já no caso dos cardeais, que têm o dever de votar e participar diretamente da escolha do novo papa, a situação é tratada com mais cautela. “Entre os cardeais, a situação fica um pouco mais complicada porque ele precisa estar ali, ele tem que continuar, ele precisa exercer esse direito que um dia a Igreja confiou em ele para que ele pudesse dar o seu voto”, explicou o especialista.
Apesar da rigidez, Araujo observa que não há registros recentes de punições severas, mas garante que a Igreja possui mecanismos internos para lidar com qualquer quebra de sigilo. O foco, segundo ele, costuma ser “afastar o indivíduo do centro das atenções”, de forma a minimizar o impacto de qualquer informação vazada.
Um exemplo citado pelo especialista: o papa Francisco, em entrevista concedida dois anos após sua eleição em 2013, revelou ter sido um dos cardeais mais votados no conclave de 2005, contrariando rumores sobre outro nome. O episódio, segundo Araujo, mostra que “informações do conclave podem eventualmente vir à tona, mas geralmente apenas com a autorização do próprio pontífice”.
O sigilo, portanto, continua sendo um elemento essencial da tradição e da liturgia católica, preservando o ambiente necessário para uma escolha livre e sagrada do novo pontífice.
Por: Maria Clara Corrêa
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