Síndrome da boa menina aprisiona mulheres em papéis de submissão desde a infância

A psicoterapeuta Liliana Ebos, mãe de dois adolescentes, descobriu aos 40 anos que conseguia dizer “não” sem culpa. Em sua casa, no interior de São Paulo, ela decidiu criar as filhas de forma diferente, ensinando-as a questionar e resistir. O motivo? Liliana passou décadas moldando sua vida para agradar os outros, vítima de um comportamento aprendido ainda na infância e hoje conhecida como “síndrome da boa menina”.

Esse padrão, descrito pela psicoterapeuta americana Beverly Engel em 2008, afeta especialmente mulheres e surge de uma tentativa constante de ser aceita. Comportamentos como sorrir para evitar conflitos, priorizar o bem-estar alheio e suprimir desejos pessoais fazem parte dessa síndrome, que não é considerada um transtorno mental, mas pode desencadear sérios problemas emocionais ao longo da vida.

A psicóloga Victoria Almiroty explica que a síndrome está ligada à fobia de conflitos, dependência emocional e perfeccionismo. Para muitas mulheres, ela é o resultado de infâncias marcadas por ausência afetiva ou pais abusivos, onde o amor parecia depender de boas atitudes. O preço pago na vida adulta, segundo especialistas, pode ser uma perda de identidade, baixa autoestima e dificuldade em manter relacionamentos saudáveis.

Liliana conta que, apesar dos desafios, prefere criar filhas confiantes e contestadoras do que jovens obedientes que vivem em função da aprovação alheia. Para isso, tem usado sua experiência e a ajuda da terapia para romper com o ciclo de submissão e dar espaço ao autoconhecimento. “Dizer não hoje é um ato de liberdade”, afirma.

Especialistas recomendam técnicas como escrita terapêutica, mantras de afirmação e práticas de escuta ao próprio corpo para reverter os padrões da síndrome. Pequenas atitudes diárias, como não se responsabilizar pelas emoções dos outros ou colocar desejos pessoais na prática, são formas eficazes de retomar o controle da própria vida.

Por: João Pena
Foto: Reprodução/Internet