‘Cidade data center’ promete revolução digital em Eldourado do Sul e gera debate ambiental

O portal Repórter Brasil revelou que a Scala Data Centers planeja construir, a partir de parceria firmada em outubro com o governo do Rio Grande do Sul, o maior complexo de infraestrutura digital da América Latina em Eldorado do Sul. A cidade gaúcha, devastada pelas enchentes de 2024, foi escolhida para sediar o megaprojeto que promete movimentar bilhões e transformar o Estado no novo Vale do Silício, impulsionado pelo crescimento da inteligência artificial.

Com investimento inicial de R$ 3 bilhões e mais R$ 4 bilhões esperados de empresas parceiras, a chamada Scala AI City será um centro híbrido voltado para cloud e IA, com capacidade energética projetada para chegar a impressionantes 4,75 GW. O projeto promete gerar mais de três mil empregos e se conectar a infraestruturas já existentes em Porto Alegre e ao cabo submarino Malbec, expandindo a rede de dados internacional. Mas, por trás do otimismo, crescem também os questionamentos ambientais e sociais.

Moradores e especialistas demonstram preocupação com o consumo de energia e água, além da falta de uma legislação clara para o licenciamento ambiental de data centers no Brasil. A lei municipal aprovada para viabilizar o projeto permite um processo simplificado e autodeclaratório, o que gerou críticas de ambientalistas e estudiosos. O risco é de que a urgência pelo desenvolvimento digital desconsidere os impactos a longo prazo para o ecossistema e a população local.

Embora a Scala afirme que usará energia 100% renovável e sistemas de resfriamento sem desperdício de água, ainda não detalhou como isso será feito. O terreno onde será construído o complexo ficou intacto durante as enchentes, mas o restante da cidade ficou submerso. Isso levanta dúvidas sobre a real resiliência climática da região escolhida. Para especialistas, inovação não pode caminhar dissociada da responsabilidade ambiental.

Em meio à pressão por transformações digitais e pelo avanço da inteligência artificial, o Brasil enfrenta o desafio de equilibrar crescimento econômico e proteção ambiental. Governos e empresas precisam encontrar caminhos mais transparentes e sustentáveis, pois, como alertam os especialistas, o custo da omissão pode ser alto. Afinal, se o futuro é digital, ele também precisa ser justo e consciente.

Por: João Pena
Foto: Reprodução / Internet