PCC e CV dividem setores econômicos em pacto estratégico, apontam investigações

Investigações apontam que o PCC e o Comando Vermelho mantêm um pacto estratégico em setores da economia: o PCC atua no ramo de combustíveis, enquanto o CV domina a venda de internet em comunidades. Ambos se aproveitam de brechas legais para operar com aparência de legalidade.

“O PCC tem histórico de manter atividades econômicas. Em tese, é menos violento e busca estruturar-se como um grande negócio. Diferentemente, o CV sempre foi pautado muito mais pela violência, apesar de também ter negócios. No entanto, eles se aproveitam do terror para explorá-los em seus territórios. É o caso da internet. Essas informações estão no radar das forças de segurança em nível nacional,” disse Mario Sarrubbo, secretário Nacional de Segurança Pública.

Em março, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, defendeu a PEC da Segurança Pública, que prevê a atuação integrada das polícias federal, estadual e municipal no combate ao crime organizado. A proposta, entregue pelo presidente Lula ao Congresso, foi discutida no evento “Caminhos do Brasil”. Lewandowski destacou que o crime hoje é nacional e transnacional, exigindo ação coordenada do governo federal.

“Como a exploração do combustível é a maneira de o PCC auferir lucro em São Paulo e, agora, no Rio, o CV elegeu a internet como o seu atrativo número um. Então, tem que explorar serviços que deem lucro, e todo mundo precisa. É um dinheiro sem esforço. Se tem operação na favela, não tem venda de droga, então dá prejuízo para eles. Mas a internet continua funcionando e, o pior, com aparência de negócio lícito,” relatou Victor Santos, secretário da Segurança Pública do Rio.

O secretário ressaltou que o PCC e o CV agem nas falhas da regulamentação.

“Uma comunidade de 50 mil moradores, eles abrem 10 empresas sem outorga. Estamos fazendo um mapeamento delas. A maioria dessas empresas está em área do CV. Há provedores que estão em nome de parentes de criminosos ou laranjas — afirma Santos, lembrando que o governo federal pretendia universalizar o acesso à internet, mas as quadrilhas se aproveitaram da situação.”

Empresas de internet operam legalmente com até 5 mil clientes sem necessidade de outorga da Anatel. Segundo a agência, há 890 empresas sem outorga no estado.

A polícia também investiga a atuação do PCC no mercado de combustíveis, com postos sem licença vendendo produto adulterado. “O PCC pratica crimes ligados ao abastecimento de combustível há muito tempo”, afirmou o delegado Pedro Brasil.

Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que o setor de combustíveis rendeu R$ 61,5 bilhões ao crime organizado em 2024, liderando a receita ilícita no país.

Por: Maria Clara Corrêa

Imagem: Divulgação/Pcerj