Cardeal Becciu desafia veto de Francisco e tenta garantir participação no conclave que elegerá novo papa

O conclave, o encontro onde os cardeais se reúnem para escolher um novo papa, não é somente um momento solene para a Igreja Católica, mas também um campo propício para discussões internas. Como já era previsto, a próxima reunião, que ainda nem teve início, não será uma exceção.

O cardeal italiano Angelo Becciu deseja se candidatar à eleição papal, porém isso desafia uma decisão crucial do papa Francisco, que anteriormente havia determinado seu afastamento do cargo.

A decisão radical foi considerada uma das muitas atitudes mais controversas do pontificado de Francisco, que procurava corrigir falhas graves na administração da Igreja.

Becciu, no entanto, não aceitou o afastamento. Nesta terça-feira (22), o italiano compareceu à primeira assembleia de cardeais e deu uma entrevista ao jornal italiano L’Unione Sarda, argumentando que o papa não tinha o direito de o excluir da eleição papal, uma vez que ele não havia renunciado explicitamente ao cargo.

“Ao convocar-me para o último consistório [assembleia de cardeais por ocasião da nomeação de novos cardeais], o papa reconheceu as minhas prerrogativas cardinalícias, na medida em que não houve nenhuma vontade explícita de me excluir do conclave, nem houve qualquer pedido explícito por escrito de minha renúncia. A lista [dos eleitores do conclave] publicada pela Santa Sé não tem qualquer valor e deve ser considerada como tal”, afirmou.

Segundo Becciu, a própria lista publicada pela Santa Sé, que o excluía do conclave, “não tem valor”. O cardeal insiste na sua inocência e acredita que a sentença de prisão que recebeu em 2023, por fraude fiscal, é uma acusação injusta, a qual está a recorrer.

O cardeal italiano, que durante sete anos foi o número três da hierarquia do Vaticano, era visto como um forte candidato à sucessão de Francisco. No entanto, a sua ascensão foi interrompida abruptamente após o escândalo financeiro que abalou as estruturas da Igreja.

Becciu não é o único cardeal a ter sido afastado por Francisco. Juan Luis Cipriani, arcebispo emérito de Lima, foi forçado a aposentar-se após acusações de abuso sexual a menores e, embora tenha sido silenciado pelo Vaticano, o seu veto à participação em futuros conclaves foi decidido em segredo.

A decisão sobre a eventual participação do italiano Angelo Becciu terá de ser agora tomada pelo decano do Colégio Cardinalício, reverendo Giovanni Battista, que é uma das autoridades do Vaticano até à nomeação de um novo Papa.

Por: Carolina Sepúlveda 

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