Mudanças em delação de Mauro Cid pode levantar desconfiança em relato de outros réus, diz colunista

O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro mudou de versão cinco vezes em sua delação, e de acordo com o colunista Eduardo Gonçalves, do GLOBO, isso será um dos principais argumentos das defesas dos outros réus para tentar desqualificar as acusações no julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). O militar prestou 12 depoimentos ao longo de um ano e quatro meses. Inicialmente, Cid minimizou sua participação e a de outros envolvidos em possíveis irregularidades. Com o avanço das investigações, ele passou a fornecer detalhes mais comprometedores, incluindo a menção ao ex-ministro Walter Braga Netto como figura central no caso.

Cid foi afastado pelo Exército em 2023, mas manteve sua patente, além de uma remuneração mensal de R$ 27 mil.

O GLOBO analisou cerca de 250 páginas que tratam do teor dos depoimentos prestados por Cid entre agosto de 2023 e dezembro de 2024. O conteúdo revela que ele mudou de versão em pelo menos duas ocasiões e acrescentou informações novas em outras três. A defesa do tenente-coronel afirmou que o “calendário e forma de coleta” da delação foram definidos pela Polícia Federal e que a colaboração “não teve idas e voltas”.

“O general Braga Netto me entrega dinheiro. Era tipo uma coisinha de presente de vinho, com dinheiro. Eu não contei, não sei quanto, tava grampeado. Eu peguei o dinheiro e passei para o De Oliveira (um outro militar que foi denunciado)”, relatou Cid.

Cid também apresentou fatos vinculados à à tentativa de aliados de Bolsonaro de tomarem pé do conteúdo da sua delação. Em 5 de dezembro de 2024, afirmou que o seu pai recebeu ligações de Braga Netto e outras pessoas próximas ao ex-presidente para saberem o que ele tinha entregue aos investigados.

“Basicamente, isso aconteceu logo depois da minha soltura, quando eu fiz a colaboração naquele período, onde não só ele (Braga Netto) como outros intermediários tentaram saber o que eu tinha falado. Isso fazia um contato com o meu pai, tentavam ver o que eu tinha, se realmente eu tinha colaborado”, disse Cid.

Por: Ágatha Araújo
Foto: reprodução