Reduzir tempo nas redes sociais e praticar desconexão evita apodrecimento cerebral, aponta estudo
Em um mundo repleto por novas informações a cada instante, a expressão brain rot (apodrecimento cerebral, em tradução livre) está se tornando cada vez mais popular para caracterizar o esgotamento mental provocado pelo uso excessivo de tecnologia e mídias sociais.
A palavra foi eleita como a Palavra Oxford do Ano de 2024, recebendo mais de 37 mil votos. O termo se tornou proeminente em debates acerca do consumo excessivo de conteúdo digital.
De acordo com o neurologista Ivar Brandi, o termo “brain rot” descreve um fenômeno clínico frequente na sociedade ocidental atual. No entanto, o termo não é um diagnóstico validado pelos guias de saúde mental ou pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Marcelle Alfinito, psicóloga especializada em saúde mental, esclarece que o conceito tem mais de duas décadas, porém a inovação mais recente neste campo foi a medição da velocidade do pensamento humano.
De acordo com um estudo científico divulgado na revista “Neuron”, nosso cérebro atualmente processa apenas 10 bits de informação por segundo, uma velocidade muito inferior à capacidade de processamento de dados nos anos 90, que era de 32 bits por segundo, por exemplo.
“Ao longo da vida, o total de informações que uma pessoa pode aprender conscientemente caberia em um pen drive de 1GB. A pesquisa revela que o fluxo de pensamento processa uma informação de cada vez. Nós não somos multitarefas!”
De acordo com Brandi, as características do brain rot podem surgir devido ao consumo excessivo, passivo e não-crítico de conteúdos de fácil consumo na internet: “São conteúdos que não promovem uma reflexão, que não promovem um desafio cognitivo ou um aprendizado, um treinamento de uma determinada habilidade. São conteúdos criados para ter engajamento pelo engajamento.”
Algumas das características do brain rot são:
- redução da capacidade de concentração;
- redução da atenção sustentada;
- aumento do risco de ansiedade;
- angústia e depressão;
- fadiga mental e emocional;
- desregulação emocional;
- episódios de irritabilidade;
- tendência a um isolamento social;
- baixa autoestima;
- redução do pensamento crítico e capacidade analítica.
“É possível prevenir todo esse impacto, da distorção cognitiva e emocional causada pelo consumo excessivo de redes sociais, através de medidas relacionadas à educação digital.”
O especialista destaca que a educação digital não é exclusiva para adolescentes, pois há evidências de que os idosos também estão consumindo excessivamente redes sociais, sendo expostos a jogos, apostas eletrônicas e fake news. “Todos precisamos aprender a usar as ferramentas digitais de maneira consciente.”
Brandi aborda o conceito de “brain rot”, uma expressão que se popularizou com o aumento de condições neuropsiquiátricas, como FOMO (medo de ficar de fora) e brain fog (névoa mental), que se intensificaram após a pandemia e estão associadas à fadiga mental. Ela explica que o “brain rot” é uma hipérbole, criada no final do século XIX, mas que ganhou visibilidade agora devido às redes sociais, pois o termo provoca preocupação, gerando engajamento e estimulando discussões sobre o tema.
Por: Carolina Sepúlveda
Foto: Reprodução