Estudo revela que 36 milhões de mulheres não fizeram exame papanicolau nos últimos três anos
Uma pesquisa prevê que mais de 36 milhões de mulheres, de 25 a 64 anos, não fizeram pelo menos uma coleta de exame citopatológico do colo do útero, também chamado de papanicolau, em um período de três anos. A informação provém de um estudo conduzido pela organização não governamental (ONG) ImpulsoGov, fundamentado nos dados do Sistema de Informação em Saúde para Atenção Básica (Sisab), mantido pelo Ministério da Saúde.
O papanicolau é a avaliação ginecológica preventiva mais frequente para detectar sinais que indicam a possibilidade de câncer de colo de útero. Ele auxilia na identificação de células anormais no revestimento do órgão que podem ser tratadas antes de se transformarem em câncer. A orientação é que o teste seja realizado inicialmente anualmente e, após dois testes consecutivos com resultados negativos, a cada três anos.
Para conduzir a pesquisa, sete indicadores do antigo programa de financiamento da Atenção Primária à Saúde (APS), o Previne Brasil, que vigorou até abril de 2024, foram levados em conta. Dentre esses indicadores, destacava-se a coleta de citopatológico em até 40% das mulheres na atenção primária.
“O citopatológico também é um indicador que, historicamente, vem abaixo [das metas definidas] e existem vários fatores para isso. Primeiro, é uma população muito grande, são muitas mulheres como público-alvo. Então, você tem que adaptar seu serviço para conseguir acolher todas essas mulheres”, observa Juliana Ramalho, gerente de saúde pública da ImpulsoGov, em entrevista à CNN.
“Fora isso, o exame por si só é muito demandante. Hoje, no nosso país, temos mulheres que cumprem o papel de chefes de família, que trabalham muito e não podem se ausentar para marcar consulta, fazer a coleta do exame e voltar para fazer o acompanhamento. Nem sempre a mulher tem o apoio necessário para se ausentar três dias de suas tarefas”, completa. “É preciso apoiar estados e municípios para conseguirem ampliar essa coleta do citopatológico e diminuir o tempo até o resultado do exame. Esse resultado tem que chegar mais rápido para essas mulheres”.
A ImpulsoGov analisou dados do Sisab e do Ministério da Saúde, com base em sete indicadores do antigo programa Previne Brasil, que focava no financiamento da Atenção Primária à Saúde (APS) desde 2019. Os indicadores avaliados incluem consultas de pré-natal, exames de sífilis e HIV, atendimento odontológico, coleta de citopatológico, vacinação infantil, e cuidados com hipertensão e diabetes. Em abril de 2024, a Portaria GM/MS n.º 3.493 instituiu uma nova metodologia de cofinanciamento federal para o SUS, substituindo o Previne Brasil. A primeira parcela do novo cofinanciamento foi transferida em maio de 2024.
O levantamento da ImpulsoGov sobre os indicadores do Previne Brasil, referente ao segundo quadrimestre de 2024, revela desafios na cobertura vacinal infantil e no acompanhamento de pessoas com doenças crônicas. A estimativa aponta que:
- 80% das crianças de 1 ano tomaram a vacina pentavalente e contra a poliomielite, abaixo da meta de 95%;
- Mais de 29 milhões de pessoas com hipertensão não tiveram consulta ou aferição de pressão arterial entre março e agosto;
- Mais de 12 milhões de pessoas com diabetes não tiveram consulta ou solicitação de hemoglobina glicada no mesmo período.
Especialistas destacam que as doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão e diabetes, têm se tornado uma preocupação global, especialmente com o envelhecimento da população brasileira. A recomendação é aumentar o investimento no sistema de saúde para atender a essa demanda crescente e implementar políticas públicas focadas na promoção da saúde e prevenção de doenças.
Por: Carolina Sepúlveda
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