Fumar prejudica fertilidade tanto de homens como de mulheres, aponta estudo
Não é novidade para ninguém que o cigarro causa uma extensa lista de danos ao corpo. Muitas pessoas desconhecem que as mais de 4 mil substâncias nocivas podem também comprometer os planos de gerar um filho biológico. Algumas pesquisas indicam que as consequências negativas para a fertilidade podem afetar tanto homens quanto mulheres.
Uma revisão publicada em setembro no Journal of Applied Toxicology destacou que a nicotina pode prejudicar as funções ovarianas, comprometendo a capacidade reprodutiva feminina.
No entanto, os danos causados pelo tabagismo vão além disso. “Estudos já demonstraram que pelo menos 100 substâncias presentes no cigarro têm efeitos conhecidos e diretos sobre a saúde reprodutiva, podendo afetar tanto a fertilidade masculina quanto a feminina”, explica o ginecologista e especialista em reprodução assistida João Antonio Dias Junior, do Grupo de Pesquisa em Saúde da Mulher do Hospital Israelita Albert Einstein.
De acordo com o médico, os impactos incluem a redução tanto na quantidade quanto na qualidade dos gametas, além de alterações hormonais que regulam todos os processos reprodutivos. Para homens e mulheres que fumam, o risco de dificuldades para engravidar é duas vezes maior em comparação aos não fumantes, conforme apontado pela Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva.
Alguns componentes do cigarro são particularmente prejudiciais à saúde reprodutiva. A nicotina, por exemplo, exerce um efeito vasoconstritor, reduzindo o fluxo sanguíneo para os órgãos reprodutivos. “Nas mulheres, isso pode dificultar a ovulação e acelerar a perda dos óvulos, reduzindo a reserva ovariana e antecipando a menopausa. Além disso, pode comprometer a receptividade do endométrio, diminuindo as chances de implantação do embrião”, explica o ginecologista João Antonio Dias Junior.
A nicotina também afeta o funcionamento das trompas uterinas, prejudicando o encontro entre óvulos e espermatozoides, além de interferir na migração do embrião para o útero. Isso aumenta o risco de gravidez ectópica, quando o embrião se implanta fora do útero.
Nos homens, a substância impacta a produção e a mobilidade dos espermatozoides, reduzindo a quantidade de gametas saudáveis. Ela também está associada ao aumento do estresse oxidativo nos testículos, o que pode causar danos ao DNA dos espermatozoides.
Além disso, o alcatrão, resíduo do fumo do cigarro, contém diversas substâncias químicas que podem danificar o DNA tanto dos óvulos quanto dos espermatozoides, prejudicando a qualidade dos embriões formados. Isso diminui as chances de gravidez e aumenta o risco de aborto espontâneo.
A exposição prolongada ao fumo pode aumentar a produção de radicais livres, criando um ambiente inflamatório no corpo. Nos homens, isso pode prejudicar a morfologia dos espermatozoides, enquanto nas mulheres afeta o ambiente do endométrio, dificultando o processo de implantação do embrião.
O monóxido de carbono, por sua vez, diminui a capacidade do sangue de transportar oxigênio. Isso pode afetar a oxigenação dos tecidos ovarianos e endometriais, reduzindo a reserva ovariana e comprometendo a receptividade do endométrio à implantação do embrião. Nos homens, o monóxido de carbono também pode prejudicar a produção de espermatozoides.
O formaldeído, ou formol, contribui para a inflamação nos órgãos reprodutivos, o que pode impactar a função do endométrio e causar danos ao DNA, afetando tanto os óvulos quanto os espermatozoides.
Por: Carolina Sepúlveda
Foto: reprodução