‘Baixo Lapa’ vira point da vez com jazz, samba e intervenções artísticas

Na pequena Rua Morais e Vale, que faz divisa com a Lapa, uma placa com versos de Manuel Bandeira anuncia: “Que importa a paisagem, a Glória, a linha do horizonte? — O que eu vejo é o beco.” O poema ganha vida entre os grafites que rodeiam os muros, homenageando outros moradores ilustres que ali viveram nos séculos XIX e XX, como a pianista Chiquinha Gonzaga e o lendário Madame Satã. Uma das primeiras vias públicas do Rio de Janeiro. Com seu casario histórico de cores vibrantes, pés-direitos altos e amplas janelas e portas, a viela renasceu. Transformada em um ponto efervescente, atrai a atenção com bares, galerias de arte e um movimento contínuo, dia e noite, devolvendo à região seus dias de glória. 

A nova vida da região já batizada por alguns de “Baixo Lapa” se deve, em parte, à revitalização do projeto Reviver Centro, da prefeitura, que reabriu a rua em março de 2023 após obras para renovação da rede de drenagem (para evitar alagamentos) e restauro da calçada histórica. Nos últimos meses, o boom da vizinha Feira da Glória, que virou programa disputado por cariocas e turistas aos domingos, também contribuiu para a ebulição desse trecho. 

Não à toa, os sócios dos bares Xepa e Maravilha, sucesso em outro bairro queridinho da boemia carioca, Botafogo, escolheram o destino para sua nova investida: o bar Jurema. Com drinques autorais e comidinhas de Pedro Attayde (da charcutaria Cochon Rouge), o calouro abriu as portas na última semana. 

“Vimos um movimento de empresários do ramo abrindo pelo Centro e começamos a olhar pontos também. Quando chegamos ali, lembrei dos carnavais que já passei, da festividade do lugar. E vi que a rua tinha melhorado muito, teve um processo de revitalização. Tinha tempo que não ia e me surpreendi” conta Thomás Faria, um dos sócios. 

Ali, o movimento intensifica no fim de semana, mas no veterano Beco do Rato, na esquina com a Rua Joaquim Silva, a agitação é de segunda a segunda. Reduto do samba de raiz, que recebe nomes como Arlindinho e Casuarina, o local surgiu há mais de 20 anos como um depósito de bebidas, da família de Lúcio Pacheco. O nome, explica Lúcio, reflete o ambiente degradado de duas décadas atrás: 

“Quando chegamos aqui tinha muito rato, era sujo mesmo. A gente chegava de manhã e encontrava carteira, documento, preservativos. Meu pai decidiu batizar assim porque era rato ladrão e animal” conta. 

A badalação se espalha para os arredores: a chegada do Suru Bar, no início do ano, na paralela Rua da Lapa, veio confirmar a vocação boêmia local. O sucesso do lugar, que atrai uma pequena multidão de quarta a segunda com petiscos espertos e coquetelaria de botequim, foi tanto que os sócios e mixologistas Igor Renovato e Raí Mendes abriram em novembro, na calçada em frente, o Suru Bafo, com carnes preparadas na brasa. 

DE BAR EM BAR

Beco do Rato. Além das rodas fixas, de Arlindinho (seg) e Encontros Casuais, de Mosquito e Inácio Rios (qui), amanhã tem Toninho Gerais (19h) e, no sábado, Moyseis Marques (19h). Rua Joaquim Silva 11.

Bar do Adalto. Há mais de 30 anos na Rua Joaquim Silva— que conecta as Ruas da Lapa e Morais e Vale— e com fotos de figuras ilustres que passaram por ali estampadas nas paredes, o bar serve cerveja gelada e o famoso caldo de ervilha. Rua Joaquim Silva 13. Seg a sáb, das 7h às 4h. Dom, das 7h às 22h.

Jurema. Recém-chegado, o bar tem quitutes como coxinha creme de frango confitado com coalhada (R$ 18). Rua Morais e Vale 47. Seg, qua e qui, das 17h à 1h. Sex e sáb, das 11h às 2h. Dom, das 10h às 20h. 

Acasa. Bistrô de cozinha romena com temperos da Amazônia. Rua Morais e Vale 21. Qui a sáb, das 19h à 1h. Dom, das 13h às 18h. 

Partisan. O espaço que funcionava só como gráfica abriu um bar com quitutes, cerveja e caipirinha. O segundo andar pode ser reservado para eventos particulares. Rua Morais e Vale, 31. 

Refettorio Gastromotiva. O restaurante social oferece almoço (11h30 às 15h) com chefs convidados, a R$ 45 (entrada, prato e sobremesa). Esta quinta(12) é a vez de Jimmy Ogro. O valor é revertido a jantares para a população carente. Rua da Lapa 108. 

Sobraderia. Ao som de vinil, o bar lembra uma construção inacabada, com luzes e pista de dança. Rua Morais e Vale 24. Sex, das 20h às 2h. 

Suru Bar. Decoração inspirada na MPB e destaque para a carta de drinques, como o mangaleta (R$ 26), de vodca, purê de manga e espuma de gengibre. Rua da Lapa 151. Qui a seg, das 19h às 2h. Qua, das 17h à 1h. Dom, das 12h às 20h. 

Suru Bafo. Carnes e legumes no bafo, como cupim (R$ 51) com batata frita ou molho à campanha. Rua da Lapa 128. Ter a sex, das 17h à 1h. Sáb, das 12h à 1h. Dom, das 12h às 20h. 

NA RUA 

Quinta: Chorinho Baixo Lapa, às 20h. 

Sexta e sábado: o jazz alterna entre os dois dias durante três semanas do mês. 

Domingo: roda de samba do Baixo Lapa e eventos como a Festa da Caipirinha, encontros de blocos e festa junina. Neste fim de semana, Batalha de MCs roda KGL. Dom, das 14h às 20h. 

Por: Carolina Sepúlveda  

Foto: reprodução