Primeira brasileira na Ópera de Paris agora é principal bailarina do corpo de baile
Em entrevista ao jornal O Globo, a bailarina de 18 anos Luciana Sagioro conta como alcançou a posição de “Coryphée”, uma das principais do corpo de Ballet Ópera de Paris, onde ingressou como a primeira brasileira. A dançarina revela os principais desafios da profissão, detalha a rotina de treinos como atleta de alta performance e lamenta desvalorização artística no Brasil.
Luciana pontua que a promoção do cargo como “Coryphée” se deu por meio de um concurso da École, que é realizado anualmente. As atletas têm, então, um mês para se prepararem para dançar uma mesma coreografia e uma outra de livre escolha já existente. Os avaliadores das melhores performances são os diretores geral e artístico, os antigos Étoiles (principais bailarinos e estrelas) da Ópera e do mundo, além de dançarinos da própria companhia.
Entre treinos exaustivos e ensaios que se estendem por todo o dia, Luciana aproveita o único dia de folga com amigos e seu companheiro.
“São raros os momentos que consigo sair e curtir com meus amigos. O mais importante é aproveitar os dias de folga com meu namorado e fazer coisas que não tenho tempo no dia a dia“, afirma.
Fora de temporada, o treino de uma bailarina dura, em média, 36 horas, estima ela. Luciana reflete que grande parte das pessoas não imagina o esforço físico necessário para dançar profissionalmente.
“Já me perguntaram: ‘vocês treinam uma, duas horas ao dia para fazerem um espetáculo lindo como esse?’. Não, é muito mais do que isso. É muita doação da nossa parte. Somos atletas de alto rendimento”, ressalta.
A dançarina também lamentou a desvalorização do esporte.
“Muitos brasileiros não fazem ideia de há uma bailarina na Ópera de Paris e não sabem a dimensão disso. Somos bailarinas, mas podemos dizer que somos atletas também. A gente usa a mente e o corpo. Somos grandes profissionais, como os jogadores de futebol, porém não temos a mesma visibilidade“, comenta.
Luciana admitiu sentir falta de sua família desde a infância, quando decidiu seguir carreira no balé. No entanto, a profissional atesta transformar a saudade em combustível para tornar seu trabalho ainda melhor.
“O grande desafio que a dança propõe na minha vida é, sem dúvidas, a distância da minha família. Ela é a minha base e o meu porto-seguro. Sinto falta do contato físico, das discussões, das risadas e das brincadeiras com as minha irmãs. Mas a distância me dá mais força e coragem no cotidiano.”
“Tenho grandes projetos em mente. São os meus sonhos que me movem. Não cheguei no máximo. Tenho muito para alcançar. Desde que cheguei à companhia, o sonho recomeçou. Quero me tornar, daqui a alguns anos, a primeira Étoile (a principal bailarina da companhia) brasileira da Ópera de Paris.”
Por: Ágatha Araújo
Foto: reprodução/Instagram