Levantamento aponta 10 mil procurados pela Justiça brasileira há mais de uma década

O Brasil possui 10 mil mandados de prisão ativos há mais de uma década, de acordo com levantamento do g1 no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP). Esses casos representam 3% dos 368 mil mandados em vigor, sendo que alguns estão abertos há mais de 30 anos.

Especialistas apontam que a ausência de integração entre as forças de segurança é a principal razão para essa situação.

“A segurança pública brasileira não aprendeu ainda a trabalhar de forma integrada”, afirma Roberta Fernandes, pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

A PEC da Segurança Pública, apresentada pelo governo Lula, busca resolver parte desse problema com a unificação de dados policiais, como boletins de ocorrência e mandados de prisão. Para Michel Misse, professor da UFF, a proposta é positiva, mas desafios como a superlotação dos presídios ainda preocupam. Atualmente, o sistema prisional enfrenta um déficit de 174 mil vagas, enquanto 763 mil pessoas estão encarceradas.

A falta de integração entre as forças de segurança fica ainda mais clara quando os procurados vivem longe do estado onde estão sendo investigados. Em 2024, por exemplo, o g1 revelou que 10 foragidos da Justiça chegaram a se candidatar a cargos públicos em estados diferentes dos locais onde eram procurados.
“O que acontece é que, às vezes, você tem um mandado de prisão aberto no Rio de Janeiro, mas a pessoa que você quer prender está presa no Paraná. E essa informação não está disponível porque não há um sistema nacional integrado de informações”, explica Michel.
Casos como o de dois irmãos presos no Maranhão após 30 anos ilustram as dificuldades operacionais. Um dos irmãos foi encontrado após o g1 questionar a polícia sobre o cumprimento do mandado.
“Atualmente, temos 300 mil mandados de prisão para cumprir no Brasil e, quando alguém está foragido, o dever da prisão não é só da polícia, mas de todo o sistema de Justiça. Mas a estrutura disponível pela polícia [para cumprir os mandados] também pode contribuir”, disse o delegado-geral do Maranhão, Almeida Neto.
Por: Beatriz Queiroz
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