Axé, dengo, quitute: influência africana é vista em palavras comuns no vocabulário brasileiro

No início de novembro, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) sugeriu aos candidatos que ponderassem sobre a importância da herança africana no Brasil. Existem diversas possibilidades que os alunos possuíam para tratar deste assunto, seja na cultura, na culinária, na fé e até mesmo no nosso vocabulário. Embora não percebamos, há diversas palavras de origem africana que fazem parte do nosso cotidiano. 

Os exemplos mais óbvios talvez sejam as palavras relacionadas às questões citadas acima, como samba, dendê ou axé. Mas diversas outras também surgiram a partir da diáspora de negros africanos durante a colonização do país. É o caso de dengo, moleque ou bagunça. 

“A sociedade brasileira é constituída de vários grupos sociais, e um deles foram os povos africanos que chegaram por vias não tão confortáveis, por conta de interesses econômicos e políticos. E duas das etnias que predominaram foram os povos bantos e os iorubás, que deixaram as suas raízes na nossa sociedade. Os povos iorubás muito com a questão da religiosidade e povos bantos também através das línguas”, explica Odara Dèlé, professora e mestranda em Educação na USP (Universidade de São Paulo). 

Uma das palavras que passou a ter uma conotação negativa ao longo dos anos foi macumba, que na verdade é um instrumento de percussão bem semelhante ao reco-reco. Tanto o instrumento quanto o tocador dele, o macumbeiro, tornou-se uma forma depreciativa de se referir aos rituais das religiões de matriz africana. 

10 palavras de origem africana:

Axé: do iorubá àse, significa poder, força, comando ou ordem, equivale ao “assim seja” ou “boa sorte”, sendo usada nas religiões de matrizes africanas como uma forma de saudação; 

Bagunça: do quicongo bangula, significa desordem ou baderna; 

Banguela: variação de ngangela, diz respeito ao povo de Benguela, na Angola, que tinha o hábito de arrancar os dentes superiores; 

Capanga: do quimbundo kappanga, trata-se de uma pequena bolsa que era usada à tiracolo para levar algum objeto de valor próximo ao corpo, virou uma expressão para guarda-costas; 

dengo: do quicongo ndéngo, significa doçura, mas também representa um pedido de aconchego em meio ao cotidiano; 

Ginga: faz referência à Nzinga, rainha de Dongo e Matamba, que hoje fazem parte de Angola, representa tanto o movimento básico da capoeira como a conotação de saber lidar com os imprevistos do cotidiano; 

Moleque: do quimbundo mu’leke, trata-se da forma como os negros chamavam os meninos ou filhos pequenos, mas tornou-se uma forma perjorativa de se referir a um menino desobediente ou um adulto que não é de confiança; 

Muvuca: do quicongo mvúka, é um encontro de pessoas como forma de lazer ou celebração, mas também passou a ter uma conotação negativa com o passar dos anos; 

Quitute: do quimbundo kitutu, trata-se de um alimento feito à base de grãos, carnes e temperos que era servido durante o descanso e celebrações nas senzalas e/ou quilombos, mas que tornou-se um sinônimo para petiscos feitos com cuidado; 

Ranzinza: do quicongo nzizi, significa “mosca caseira”, que causava irritação. Passou a designar também pessoas mal-humoradas, cuja presença, tal como a da mosca, incomoda. 

Por: Carolina Sepúlveda  

Foto: reprodução