Em 2023, polícia mata 243 crianças e adolescentes em nove estados, de acordo com um relatório
Na noite desta terça-feira (5), Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos, estava brincando em frente à residência de uma prima no Morro do São Bento, em Santos (litoral de São Paulo), quando foi alvejado com um tiro. Ele foi encaminhado para o hospital, porém não resistiu e veio a óbito.
Segundo a própria PM de São Paulo, o disparo “provavelmente” saiu de uma arma da Polícia Militar. Em uma entrevista coletiva nesta quarta (6). O coronel afirma que projétil ficou alojado no abdômen do menino, que infelizmente faleceu. Ele diz que será feito um confronto balístico (O exame utilizado para a análise e identificação de armas de fogo, projéteis e explosivo), para verificar a origem desse disparo, e só terá certeza após o laudo da perícia.
Em 2023, Thiago Menezes Flausino, de 13 anos, foi morto por policiais do RJ na Cidade de Deus, segundo inquérito sobre o caso feito pela própria polícia. No mesmo ano, Eloáh da Silva dos Santos, de 5 anos, foi morta pela polícia no Morro do Dendê, segundo investigação do Ministério Público.
Em 2020, as vítimas foram João Pedro Mattos Pinto, de 14 anos; Alice da Silva Almeida, de 3 anos; Emily Victoria da Silva, de 4 anos, e Rebecca Beatriz Rodrigues Santos, de 7 anos. Em 2019, foi Ágatha Félix, de 8 anos. Em 2017, foi Maria Eduarda Alves da Conceição, de 13 anos, baleada dentro da escola. Nenhuma dessas mortes foi computada como resultante de ação policial, mas como homicídio. Ou seja, as mortes de Thiago e Eloah em 2023 não estão entre as 243 mortes de crianças e adolescentes registradas em nove estados brasileiros naquele ano como resultado de intervenção do Estado.
O relatório Pele Alvo, aponta número de mortes que revelam um padrão, divulgado nesta quinta (7) pela Rede de Observatórios da Segurança, que reúne institutos de pesquisa do Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo. O estudo é elaborado com dados das Secretarias de Segurança Públicas estaduais de cada Estado pedidos via Lei de Acesso à Informação.
O relatório aponta também que das 4.025 pessoas mortas pela polícia nesses Estados em 2023, 87,8% eram negras, uma proporção bem maior do que a proporção de negros na população brasileira. Isso equivale a uma pessoa negra morta pela polícia a cada quatro horas em 2023 somente nesses nove estados.
Os casos são registrados como: morte em decorrência de ação policial, legítima defesa, os outros casos são registrados como homicídios, sem uma separação estatística que permita saber quantos deles foram cometidos por policiais. Esse tipo de registro é problemático, afirma Silvia Ramos, pesquisadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes, pois induz a pensar que em todos os casos de homicídio pela polícia, a responsabilidade é apenas do policial que atirou individualmente, e não da corporação.
“E essas mortes nem sequer são contabilizadas como mortes decorrentes de ação policial. Entram para as estatísticas de homicídios como se fossem efeitos colaterais aceitáveis, ou balas perdidas, ou azares, ou acidentes pontuais”, afirma Ramos, que é porta-voz da Rede de Observatórios.
Por: Carolina Sepúlveda
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