PF investiga participação de Ronnie Lessa em outros assassinatos, além de Marielle e Anderson

Em seu acordo de delação premiada, Ronnie Lessa, condenado por executar Marielle Franco e Anderson Gomes, negou ser um “matador de aluguel” e disse: a vereadora foi a única pessoa que ele matou por dinheiro. A declaração vai contra a investigação da Polícia Federal, que qualificou o ex-PM como um “notório sicário” no relatório final do caso.

O trabalho da PF aponta indícios da participação de Lessa em mais de uma dezena de homicídios a soldo cometidos ao longo dos últimos 20 anos. Entretanto, apesar de pistas indicarem o envolvimento do ex-PM, todos os casos seguem em aberto na Polícia Civil e no Ministério Público do Rio (MPRJ), sem solução. A primeira e — até o momento — única condenação de Lessa pelo crime de homicídio foi a da última quinta-feira (31).

Três homicídios em que há indícios da participação de Lessa vieram à público quando o MPRJ passou a analisar dados da quebra do sigilo telemático do ex-PM durante o caso Marielle. Ao vasculhar suas buscas na internet, os investigadores perceberam que, dias antes de execuções com assinatura profissional, Lessa pesquisou dados pessoais das vítimas.

Um dos casos foi o do ex-deputado estadual Ary Brum, assassinado a tiros na manhã de 18 de dezembro de 2007, numa execução com modus operandi praticamente idêntico ao do homicídio de Marielle: os criminosos emparelharam com o carro de Brum na Linha Vermelha e o atirador fez os disparos com ambos os veículos em movimento. Dois meses antes, em 2 de outubro de 2007, Lessa pesquisou o CPF do ex-deputado.

O inquérito do caso, obtido pelo Globo, tem diversas menções a Lessa. A investigação da Delegacia de Homicídios (DH) concluiu que o assassinato do político foi encomendado por um sócio, o empresário Lindenberg Sardinha Meira, que culpava Ary Brum por um prejuízo milionário: Meira teria descoberto um desfalque nas contas do Hospital Quarto Centenário, em Santa Teresa, uma sociedade dos dois.

O relatório da investigação revela que os dois brigaram na véspera do crime e, em seguida, o empresário teria ordenado que seus seguranças, todos policiais, matassem Brum. Lindenberg Meira foi denunciado pelo Ministério Público e virou réu pelo homicídio. Mais de dez anos depois, acabou absolvido por falta de provas.

Créditos da imagem: Divulgação

Escrito por: Rafael Ajooz