Caso Marielle: assessora de Marielle diz que teve de deixar país e não pôde se despedir
Sobrevivente do atentado contra a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, e primeira testemunha a depor no júri dos ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, a assessora da parlamentar Fernanda Chaves relata as mudanças que sua vida sofreu com o duplo assassinato.
“O impacto sobre a minha filha foi o mais preocupante para a gente. A minha filha, no dia que saímos do Rio de Janeiro, a gente teve que sair em um carro escoltado, abaixados, eu estava de boné. Parecia que eu estava fugindo. Ela se sentiu em fuga“, disse Fernanda.
No júri marcado para esta quarta-feira (30), a jornalista pediu que os réus não estivessem presentes no momento de seu depoimento, o que foi acatado pela juíza Lúcia Glioche.
“Eu ouvi uma rajada em nossa direção. Eu percebi que era uma rajada em direção ao carro. Em um reflexo, eu me abaixei. Eu estava atrás do Anderson e do lado da Marielle. Eu me enfiei atrás do banco do Anderson. Eu percebi que o carro foi atingido, mas seguia em movimento. O Anderson esboçou dor, falou “ai”, mas foi um suspiro. Eu lembro que o carro estava andando, mas lembro dos braços dele caindo. Marielle estava imóvel e o corpo dela caiu em cima de mim“, disse.
Segundo Fernanda, ela tem “lembranças confusas” e que após os tiros ela sentia o corpo arder.
“Eu olhei para dentro do corpo e esperava que a Marielle estava desmaiada. Eu não queria acreditar que ela estivesse morta. Eu tremia demais, estava em um estado pré-choque. Eu tentava me manter, de alguma forma, consciente. Essa mulher chamou a ambulância. Eu queria falar com meu marido, mas eu não lembrava de número, de nada”.
Fernanda conta ainda que o caso provocou uma grande mudança em sua vida. A jornalista foi orientada a deixar a sair imediatamente da casa que morava e desde então nunca mais voltou à casa na Tijuca, na Zona Norte do Rio.
“Embora sejam sete anos desse atentado, não há normalidade. Eu tive que sair do país. Fui orientada a sair imediatamente da minha casa. Eu saí de casa dois dias e meio depois com meu marido e a minha filha, após aguardar o tramite da Anistia Internacional, que ofereceu um acolhimento”.
A ex-assessora destacou ainda que não pôde participar do velório, enterro e manifestações pedindo justiça por Marielle e Anderson.
Ronnie e Queiroz podem pegar 84 anos de prisão cada um, considerada a pena máxima.
Por: Ágatha Araújo
Foto: reprodução/TV Globo