‘Me embrulha o estômago’: Mohana, filha de Lessa, diz que pensa em mudar de nome por causa do pai

Mohana, filha de Ronnie Lessa, ex-sargento da PM condenado pela morte da vereadora Marielle Franco, esteve presente em todas as sessões do depoimento do pai no Supremo Tribunal Federal (STF) na semana passada. Mohana, de 28 anos, acompanhou os procedimentos por videoconferência, mas preferiu não ser vista, mantendo sua câmera desligada durante os três dias de audiência.

Em primeira mão ao blog Segredos do Crime, Mohana disse:

“Ver a imagem dele me embrulha o estômago. É difícil olhar para ele, conversar. Olho e penso comigo mesma: “O que você fez, Lessa?” Já pensei em mudar de nome por causa dele. Pelo menos o sobrenome. Pensei em tirá-lo da minha identidade. Mas ele é meu pai, e nunca deixará de ser. As coisas nunca serão como antes. Agora ele tem que assumir e pagar pelo que fez”

Formada em Educação Física e especialista em futebol, Mohana, de até então 21 anos, vivia em Orlando nos Estados Unidos com uma bolsa de estudos. Em 2019, seu pai, o ex-sargento da PM Ronnie Lessa, foi preso pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), sob o comando do delegado Giniton Lages, e pelas promotoras Simone Sibílio e Letícia Emile, do Gaeco do MPRJ.

“Ele sempre alegou inocência. Chegava a chorar comigo. Hoje entendo que ele fazia isso para se proteger. Eu estudei minuciosamente os processos dele, tentando ajudá-lo em sua defesa. Até as pesquisas que ele fez, eu descobri que eram matérias de jornal. Fui até o advogado dele e expliquei que 70% delas eram de matérias jornalísticas. Não sabíamos das buscas do CC Fácil (pesquisa feita por Lessa, usando o e-mail de uma pessoa falecida, descoberta pela Força-Tarefa Marielle e Anderson, do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), sobre as buscas aos endereços da vereadora). O endereço da Rua do Bispo, no dia 12, dois dias antes da morte de Marielle, era a pior prova contra ele, até então. Eu não conseguia aceitar isso, mas continuei sendo sua defensora ferrenha”

Mohana abandonou seu emprego nos Estados Unidos para cuidar de seu irmão, então com 14 anos, e de sua avó. Em outubro de 2019, a situação da família se agravou com a prisão de sua mãe, Elaine Lessa, e de seu tio Bruno, sob a acusação de obstrução à Justiça. Além disso, Mohana enfrentou um processo por contrabando de peças e acessórios de armas de fogo. De acordo com a versão apresentada por um réu colaborador, Lessa teria solicitado que Mohana enviasse os materiais necessários para a montagem de fuzis de airsoft e de pressão a gás.

Em decisão da 5ª Vara Federal Criminal do Rio, a juíza Fernanda Resende Domnice absolveu Mohana das acusações de contrabando e participação em esquema criminoso. A magistrada considerou que não havia elementos suficientes para comprovar seu envolvimento, levando em conta, inclusive, a possibilidade de seu pai, à época policial militar, ter autorização para realizar as importações. Lessa, por sua vez, foi condenado a seis anos e oito meses de prisão em regime semiaberto. Elaine e Bruno, acusados de tentar atrapalhar as investigações, receberam pena de quatro anos, convertida em prestação de serviços à comunidade. Elaine, assim como Mohana, foi absolvida da acusação de contrabando.

Por: Beatriz Queiroz
Foto: Arquivo OnBus