Curicica afirma que Rogério de Andrade pagou R$ 500 mil à delegacia para não investigar execução de sargento

Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, revelou em seu depoimento dado na terça-feira (21) o pagamento de propina à Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). Durante a audiência de instrução e julgamento no STF dos mandantes do homicídio da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes, ele disse que o contraventor Rogério de Andrade teria pago R$ 500 mil à DHC a fim de evitar ser investigado como mandante no homicídio do sargento reformado Geraldo Pereira. Amigo de Curicica, Pereira foi assassinado em razão da disputa por pontos de máquinas de caça-níqueis em Jacarepaguá.

“Quando mataram o meu amigo Pereira, mandei um recado para o Fábio Cardoso (delegado da DHC na época) dizendo que eu iria depor. Eu tinha um mandado de prisão e estava esperando resolvê-lo para ir à delegacia. Eles (policiais) pegaram o meu recado e o mostraram para Rogério de Andrade. Então, o Flávio Pepe (Flávio da Silva Santos, presidente da Mocidade Independente de Padre Miguel), braço direito do contraventor, me procurou, abriu a bolsa e me mostrou que estava cheia de dinheiro. Ele disse que havia R$ 500 mil e que aquilo era para a Delegacia de Homicídios não levar adiante o que eu dissesse em depoimento”, afirmou Curicica em seu depoimento, respondendo às perguntas do procurador da República, Olavo Evangelista Pezzotti, pela acusação.

Segundo Curicica, o mandado de prisão contra ele, por posse de arma, teria sido criado pela DHC porque ele não aceitou pagar propina. O que a testemunha não explicou foi o motivo de procurar a especializada na elucidação de homicídios para contar quem teria matado Pereira, se ele próprio afirma que há policiais corruptos na unidade.

“O Adriano matou o Pereira. Deram 89 tiros de fuzil nele, numa academia. O caso está sem solução até hoje, porque, na Delegacia de Homicídios da Capital, naquela época, tudo era pago”, lembrou ele.

O procurador da República, Olavo Evangelista Pezzotti, representante da PGR, questionou também sobre o uso do poder público na intenção de proteger os contraventores, assim como a atuação do Escritório do Crime.

“O Escritório do Crime surgiu em apoio ao jogo do bicho e à contravenção. Na época, Maninho (Waldomiro Paes Garcia) foi assassinado, e o capitão Adriano (Adriano da Nóbrega) passou a fazer a segurança da família Paes Garcia. Houve uma guerra interna na família, e Adriano matou Zé Personal (José Luiz de Barros Lopes, genro de Maninho). A cúpula do jogo do bicho decidiu que Bernardo Bello assumiria o lugar de Personal. Como prêmio de consolação, deram a Adriano quatro ou cinco áreas na Tijuca para ele administrar as máquinas de caça-níqueis. Assim nasceu o Escritório do Crime, que se fortaleceu”, contou Curicica.

“No passado, o jogo do bicho tinha seus matadores. Cada contraventor tinha o seu, o que causava problemas, pois ficava vinculado a eles. Nos anos 2000, os bicheiros passaram a terceirizar os homicídios, contratando grupos de matadores. Dessa forma, eles não precisavam mais comprar armas e munição, e dificilmente o inquérito chegava até eles. Os policiais já não queriam prendê-los. No caso do meu amigo Pereira, todo mundo sabe que foi Adriano, mas não vão descobrir quem é o bicheiro. Os contraventores passaram a pagar à DHC para que os casos não seguissem adiante”, disse a testemunha, trazendo informações  sobre a mudança de atitude dos criminosos na contratação de mão de obra para executar rivais.

Créditos da imagem: Divulgação/Commons

Escrito por: Rafael Ajooz