Polícia Federal entrega relatório sobre obstrução no caso Marielle Franco ao STF

Nesta sexta-feira (9), a Polícia Federal entregou ao Supremo Tribunal Federal um relatório complementar sobre obstrução nas investigações do caso Marielle Franco. O documento ratifica o indiciamento dos delegados Rivaldo Barbosa e Giniton Lages, além do comissário Marco Antonio de Barros Pinto, conhecido como Marquinhos.

O relatório de 87 páginas revela que agentes de alto escalão da Polícia Civil agiam de forma coordenada para dificultar as investigações sobre os assassinatos de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. De acordo com a PF, imagens de câmeras de segurança que poderiam ter acelerado a identificação dos assassinos não foram buscadas intencionalmente.

A investigação de obstrução está ocorrendo paralelamente ao inquérito que acusa os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão como mandantes do crime e o delegado Rivaldo Barbosa como mentor dos assassinatos. Os investigadores revisaram documentos e o conteúdo dos celulares apreendidos durante a operação que resultou na prisão dos irmãos Brazão em março.

A Polícia Federal também ouviu novos depoimentos, incluindo o do atual secretário de Polícia Civil, Marcus Amim, que, na época dos crimes, trabalhava na delegacia de Vicente de Carvalho. Amim relatou aos investigadores que, uma semana após os assassinatos, sugeriu a Rivaldo Barbosa estratégias para o caso, mas foi orientado a procurar Giniton Lages. Amim afirmou ter encontrado Giniton por acaso e sugeriu que apenas cinco pessoas poderiam estar envolvidas na execução, mencionando o capitão Adriano e Ronnie Lessa.

Lessa e Élcio de Queiroz, presos em 2019, confessaram o crime e fecharam acordos de colaboração premiada. O relatório da PF conclui que Giniton Lages tinha conhecimento de que Ronnie Lessa era, no mínimo, um suspeito potencial desde o início da investigação, e que foram capturadas imagens do Quebra-mar e do Condomínio Floresta, mas não da Avenida Lúcio Costa, reforçando a suspeita de que Giniton sabia da origem dos executores, mas não avançou na coleta de provas.

Amim também alertou que a chave para resolver o crime estava nas imagens de câmeras de segurança do percurso do carro usado na perseguição das vítimas, mas segundo a PF, Giniton ignorou essas informações e alegou não se lembrar da conversa. As imagens do Cobalt prata usado no crime só foram incluídas no inquérito após uma denúncia anônima, sete meses depois. O relatório também destaca a falta de imagens da rota de fuga dos criminosos do Centro de Convenções Sulamérica, a apenas 450 metros do local do crime.