Mulher que imitou macaco em roda de samba é argentina e estava no Rio para Fórum de Educação Musical

A mulher que imitou um macaco durante uma roda de samba na Praça Tiradentes, no Centro do Rio, na noite de sexta-feira, seria uma argentina de Buenos Aires que estava na cidade para participar do Fórum Latino-Americano de Educação Musical. O homem que a acompanhava e também fez as imitações seria carioca. A informação foi levada nesta segunda-feira à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) pela jornalista Jackeline Oliveira, que gravou o vídeo que flagrou o ato de racismo. Ela estava acompanhada de Wanderso Luna, idealizador da roda Pede Teresa, da vereadora Monica Cunha, presidente da Comissão de Combate ao Racismo da Câmara de Vereadores, e de advogados. Além de formalizar a denúncia, o grupo pediu a identificação e punição dos envolvidos. O próprio fórum confirmou, via comunicado em suas redes sociais, que um dos envolvidos participou do evento.

— Nada ameniza o racismo. Em nenhum país as pessoas entenderão que racismo é uma coisa boba, uma brincadeira. Volto a dizer que o homem é brasileiro, está aqui no Rio de Janeiro e será encontrado em algum momento. A mulher também não vai desaparecer. Continuaremos buscando e espero que a polícia faça seu trabalho, localizando, responsabilizando e fazendo essas pessoas pagarem pelo crime de racismo que cometeram — disse a jornalista.

Jackeline contou que estava na roda de samba na noite de sexta-feira e, ao sair para comprar uma água, viu o homem e a mulher, ambos brancos. Inicialmente pensou que se tratava de uma dança, mas logo percebeu que não era o caso. Após algum tempo de observação, resolveu gravar e chamou o segurança.

No dia seguinte, Jackeline postou o vídeo em suas redes sociais, mas ao perceber a gravidade da situação, decidiu denunciar o caso. Para isso, procurou ajuda da Comissão de Combate ao Racismo da Câmara Municipal, presidida pela vereadora Monica Cunha, da qual Jackeline é assessora. Ela também entrou em contato com Wanderso Luna, idealizador da roda de samba, que se prontificou a acompanhá-la à delegacia para formalizar a denúncia.

— Quando o caso ganhou toda essa repercussão nas redes sociais, não imaginava que teria tanta força. Mas a população se mobilizou, porque isso não pode ser mais um caso de racismo. Tem que haver uma punição.

Wanderso Luna, que estava tocando na roda de samba, disse que só ficou sabendo do caso no dia seguinte, após as postagens da jornalista. Ele relatou que o casal foi interpelado pelos seguranças do evento assim que foram comunicados por Jackeline.

— É algo tão absurdo, em 2024, uma pessoa imitar um macaco, que ninguém acredita. As pessoas não se dão conta do que está acontecendo. Poderia ter resultado em uma tragédia. Eles são racistas, mas não queremos que ninguém morra ou sofra violência.

Wanderso diz que, como homem negro, não se surpreende com esse tipo de acontecimento, que, segundo ele, infelizmente é corriqueiro.

— A roda Pede Teresa, na Praça Tiradentes, é uma ferramenta para lutar contra isso, até porque o local, historicamente, sempre foi ocupado por nós, negros. Há dois séculos, havia capoeiristas lá e, quando colocaram a estátua de D. Pedro I, nos tiraram de lá. Confio na justiça brasileira. Eles serão encontrados e pagarão. Mas estamos diante de uma oportunidade de provocar um debate sobre como lidar com o racismo.

A vereadora Monica Cunha disse que, quando viu o vídeo gravado por sua assessora, sentiu-se revoltada:

— Foi revoltante, porque isso desencadeia gatilhos em nós que conhecemos o racismo. É muito triste ver duas pessoas em um lugar como aquele e, em vez de aproveitar, fazerem uma coisa dessas.

Em uma rede social, o Fórum confirmou que um dos envolvidos participou do evento, mas não é associado ao Fladem Brasil e não tem ligação com nenhuma atividade pedagógica, acadêmica ou cultural do evento. Além de repudiar o ato, o Fórum informou que solicitou à seção brasileira que abra um processo para investigar a situação, conforme as leis brasileiras.

“Está sendo veiculado em mídias e redes sociais vídeos de duas pessoas brancas fazendo movimentos sugestivos de ‘macacos’ durante uma roda de samba na Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro, na sexta-feira, dia 19/07/2024. Uma dessas pessoas participou do XXVIII Seminário Latino-Americano de Educação Musical, realizado na cidade, já que cada ano um país latino-americano é anfitrião. Salientamos que tais pessoas NÃO são associadas ao Fladem Brasil.”