Lúcio Mauro Filho e Bruno Mazzeo estreiam peça autobiográfica ‘Gostava mais dos pais’ e falam de amizade
Nesta quinta-feira (20), estreou a peça autobiográfica “Gostava mais dos pais” no Teatro Casa Grande, no Leblon, Zona Sul do Rio. De um lado, Bruno Mazzeo, filho de Chico Anysio (1931-2012) e do outro, Lúcio Mauro Filho, caçula de Lúcio Mauro (1927-2019). Herdeiros de dois dos maiores nomes do humor no Brasil, celebram a amizade de décadas subindo no palco pela primeira vez juntos.
O clichê vindo do público, e piada entre eles, é a frase que dá nome à comédia e um dos fios condutores do espetáculo, dirigido pela Debora Lamm, que é muito amiga dos dois.
“O título foi a primeira coisa que definimos, antes mesmo de saber o que faríamos. A gente brinca com a nossa linhagem, que não é um peso, pois fizemos nossas carreiras independentemente dos nossos pais. Então, a gente pode se sacanear, o que surpreende as pessoas” conta Bruno.
O espetáculo é dividido em nove esquetes baseadas em cenas do cotidiano em que os dois interpretam a si mesmos.
Entre as cenas, incompatibilidade de gerações, inversão de expectativas e o “lado tiozão” do duo, que diz ainda estar se adaptando às ferramentas tecnológicas. No tablado, a dupla conta com um cenário interativo que simula feeds de redes sociais, posts e reuniões on-line.
“É uma felicidade falar dos tempos atuais tendo como ponto de partida algo tão saudosista. Por louvar nossos pais e toda a geração de comediantes deles, era um risco cair nesse saudosismo. Mas a terapia em grupo que fazemos diante da plateia nos salvou. São assuntos meus, do Bruno e de toda uma geração” destaca Lúcio.
A ideia surgiu há cinco anos, enquanto estavam em turnê com a série de monólogos “5 x comédia”, mas foi atrasada por conta da pandemia e, depois, por outros compromissos profissionais.
“Nunca foi uma pressão, mas, inconscientemente, a gente sempre esperou por esse momento.”relembra Lúcio.
Foi só em novembro de 2022 que o roteiro começou a ganhar forma, pelas mãos de Aloísio de Abreu e Rosana Ferrão, dois da equipe que eles carinhosamente chamam de “trupe”.“Por mais que não tenha sido a gente que tenha se sentado diante da tela em branco, não deixa de ser uma peça autoral. Não é um texto que vai ser remontado daqui a 20 anos. São questões muito nossas. Nos cercamos de pessoas talentosas que nos conheciam na intimidade” detalha Bruno.
Intimidade essa que, para Lúcio, permite, dentre outras coisas, que a dupla possa “se expor e chorar”.
“É um grupo que sabe onde está o nosso drama. Somos privilegiados. Tivemos acesso a tudo, somos vitoriosos nas nossas carreiras… E o teatro pede o drama. O teatro tem as duas máscaras. A do sorriso estava garantida, porque é nossa labuta. Mas e a do drama? Porque o drama não é dos nossos pais, é nosso” opina o ator.
Para Debora, a afinidade entre os dois, não só na vida pessoal, mas também no espaço cênico, gera um resultado “catártico” e alça a “trama hiper temperada” a um lugar de “comédia que levanta pensamentos”:
“É tudo muito natural entre eles. Tudo entre a gente é no amor e na amizade. Quando eles me contaram que queriam fazer uma peça e me convidaram para dirigir, já era evidente que seria um espetáculo sobre o afeto. Quando me disseram que tinha relação com a memória dos pais, me dei conta de que era uma homenagem não só ao Chico e ao Lúcio, mas aos dois também”.
Apesar do “encontro maduro em cena”, em que reproduzem o relacionamento e a profissão dos pais, os humoristas pontuam que, na contramão de Lúcio Mauro e Chico Anysio, a amizade dos dois levou tempo para se estabelecer.
“Nossos pais já se conheciam desde 1950, mas por muito tempo, a gente só tinha uma convivência. Nossa amizade esperou o tempo dela maturar. Hoje, quando tenho alguma questão, o Lucinho é a primeira pessoa para quem ligo. Como nossos pais, a gente se entende e se respeita muito. Como artistas, a gente se complementa, mesmo não tendo os mesmos estilos. Aí a nossa troca fica à la Bebeto e Romário“, entrega Mazzeo, três anos mais novo que Lúcio.
“No início, essa diferença de idade pesou“, diz Lúcio.
Segundo ele, apesar de terem encontros sociais desde sempre, a amizade só engrenou quando Bruno fez 18 e os assuntos começaram a ter uma interseção.
“Profissionalmente, como temos muita afinidade, o maior desafio é não deixar a coisa esculhambar. No palco, estamos em casa. É tão caseiro que pode se tornar um perigo” acrescenta, aos risos.
É ao pai do amigo Bruno, inclusive, que Lúcio atribui os rumos profissionais. Aos 23 anos, ele já fazia teatro, mas na TV, só conseguia pontas em novelas. Até que Chico o incentivou a investir no humor.
Com 50 anos completados na última terça-feira, Lúcio ressalta que o impasse da idade é uma das barreiras quebradas na peça.
“Nossos contemporâneos que vão levam filhos, que têm entre 12 e 18 anos. E essa geração tem uma carência nesse lugar, de respeitar quem veio antes. Não há interesse em conhecer. Diante disso, a peça deixa uma mensagem poderosa. Através do Chico Anysio e do Lúcio Mauro, a gente faz uma homenagem a comediantes que já se foram” diz Lucinho.
“Por incrível que pareça, tem uma geração que não tem a menor ideia de quem foram Chico Anysio e Lúcio Mauro, mas é assim que funciona. E muitos jovens que vão com os pais, depois de verem a ovação na plateia quando eles são mencionados, saem de lá procurando no Youtube quais foram os seus trabalhos. A gente nem teve essa pretensão, mas acaba acontecendo” finaliza Mazzeo.
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