Onda de calor: relatório climático alerta atletas das Olimpíadas para riscos com altas temperaturas

De acordo com o relatório climático “Rings of Fire” (Anéis de Fogo), divulgado nesta semana por pesquisadores britânicos, o calor pode colocar os atletas das Olimpíadas de Paris em risco. A notícia foi realizada em colaboração com atletas e ex-atletas olímpicos de 11 países. O estudo tem como objetivo alertar sobre os riscos de competir em condições climáticas extremas, incluindo desidratação, exaustão, insolação e até a morte. A cidade-sede dos Jogos registrou picos de temperatura de mais de 40ºC no ano passado, e a previsão não é diferente para o próximo verão europeu.

“É um verdadeiro risco, o tipo de risco que pode potencialmente ser fatal. Joguei em condições em que um ovo poderia ser literalmente frito em quadra (nas Olimpíadas de Tóquio). Isso não é como esportes deveriam ser praticados. E a coisa mais perigosa é que nós atletas geralmente não sabemos quando parar, pois estamos condicionados a ir além dos limites”, afirmou Marcus Daniell, tenista neozelandês e bronze nas duplas dos Jogos do Japão e colaborador do relatório “Rings of Fire”.

Os Jogos de Tóquio foram as Olimpíadas mais quentes da história, com temperaturas ultrapassando os 34ºC e quase 70% de umidade. Desde então, o aquecimento global vem piorando o cenário para Paris 2024. O Serviço Copernicos para Alterações Climáticas afirmou que 2023 foi o ano mais quente registrado desde 2014, ano de início do programa da União Europeia.

Atletas são de longe as pessoas em maior risco, mas também os torcedores, as pessoas que estão trabalhando, as pessoas com condições pré-existentes, gestantes… Todas essas pessoas. Basicamente qualquer um colocado nessas condições está em risco, mas especialmente os atletas por causa do esforço nos seus corpos. Estou realmente surpresa que ainda temos as Olimpíadas nesse período do ano. Essas Olimpíadas vão ser realizadas em um período em que vimos ondas significantes de calor, muito mortais”, declarou Kaitlyn Trudeau, cientista britânica da Climate Central.

As mudanças climáticas preocupam o Comitê Organizador de Paris, que mantém o compromisso de promover jogos mais sustentáveis e reduzir a pegada de carbono do evento. Apenas fontes de energia renováveis (eólica e solar) serão usadas nas Olimpíadas.

Na segunda edição do relatório, foi estudada a variação climática em Paris desde a realização das últimas Olimpíadas na cidade, há 100 anos. A temperatura média durante os Jogos de 2024, entre 26 de julho e 11 de agosto, tem previsão para ser 3,1°C mais quente do que a última vez que a competição olímpica aconteceu na Cidade da Luz.

“O calor piora o jogo e também é perigoso. Tive companheiros de equipe que sofreram insolação, ficaram alguns dias no hotel. Está no DNA do atleta se esforçar ao limite absoluto. Você pressiona seu corpo ao limite. Em condições seguras é uma coisa, mas quando as condições são inseguras, acima de 30ºC, 35ºC, fica muito perigoso”, disse James Farndale, jogador da seleção britânica de rugby sevens.

O estudo também relembrou sobre a onda de calor de 2003, que deixou mais 14 mil vítimas fatais na França. Na época, a temperatura máxima registrada em Paris foi de 39,5°C. Já em 2019, ano mais quente do país, o termômetro chegou a 45,9°C. No ano passado, 5 mil mortes foram relacionadas ao calor em território francês.

“Olhando essas temperaturas na cidade, olhando a temperatura na França e vendo como elas mudaram nos últimos 100 anos, o que é mais surpreendente é o período dessas Olimpíadas. Vimos ondas de calor tão mortais nesse exato lugar, nesse exato período, por muitas vezes na história recente. Sem esforços consideráveis para reduzir a emissão de carbono, não há dúvidas de que as temperaturas vão tornar quase impossível, se não completamente impossível, sediar Olimpíadas de verão. As Olimpíadas de Inverno também. Não seremos capazes de realizar esses eventos e manter atletas a salvo”, afirmou Kaitlyn.

O relatório foi produzido pela Basis (Associação Britânica para Sustentabilidade no Esporte) e pela FrontRunners, entidade para promover lideranças esportivas climáticas. Pesquisadores da Universidade de Portsmouth e da Climate Central, grupo independente de cientistas que estuda as mudanças climáticas, também participaram.

Por Isabelli Aragão

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