Insatisfeito com vitória da Extrema Direita, Macron descarta renúncia ‘seja qual for o resultado’ das eleições antecipadas

O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que não renunciará “seja qual for o resultado” das eleições legislativas antecipadas, convocadas após a vitória da extrema direita nas eleições europeias. As negociações entre os partidos para formar alianças continuam em andamento.

“Seja qual for o resultado, as instituições são claras e o lugar do presidente também”, declarou Macron à revista Figaro Magazine, quando questionado sobre o risco de o partido de extrema direita Reunião Nacional (RN) exigir sua renúncia após as eleições.

Apesar da antecipação inesperada das legislativas, originalmente previstas para 2027, Macron pode permanecer como presidente até o final do mandato. No entanto, há o risco de ele compartilhar o poder com um governo de outra tendência política, em uma situação de “coabitação”.

A poucos dias do prazo final para o registro de candidaturas, o presidente do partido conservador Os Republicanos (LR), Éric Ciotti, surpreendeu ao defender uma “aliança” com o RN, apesar da oposição de vários líderes de sua legenda, que pediram até mesmo sua renúncia.

“Precisamos de uma aliança com o Reunião Nacional, mas sem perder nossa identidade”, afirmou Ciotti em entrevista ao canal TF1, alegando que ambos os partidos compartilham os “valores de direita”, o que ajudaria a “conservar deputados” em meio à queda prevista nas pesquisas.

A líder do RN, Marine Le Pen, elogiou a “escolha corajosa” e o “senso de responsabilidade” de Ciotti. Caso a proposta se concretize, isso romperia com o isolamento tradicional do partido, herdeiro da Frente Nacional de Jean-Marie Le Pen.

A sugestão, no entanto, causou um abalo político no partido que já governou o país com presidentes conservadores como Charles De Gaulle, Georges Pompidou, Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy. Desde 2017, muitos políticos migraram da legenda para o partido de Macron.

Macron, que chegou ao poder em 2017 com uma plataforma de centro, tenta manter distância dos “extremos” representados, em sua opinião, pela RN e pela França Insubmissa (LFI), de esquerda radical.

Apesar da queda na popularidade do presidente centrista, marcada por protestos sociais como o dos “coletes amarelos” e contra a reforma previdenciária, o partido governista busca resgatar seu espírito inicial.

Macron convocou uma entrevista coletiva para quarta-feira, com o objetivo de apresentar o “rumo” para a França e se posicionar como a opção moderada frente às “forças extremistas”, segundo fontes próximas ao presidente.

“Frente Popular”

As discussões fortalecem os três blocos políticos que emergiram na França após as eleições presidenciais e legislativas de 2022: a aliança centrista de Macron, a extrema direita de Marine Le Pen e a frente de esquerda Nupes (Nova União Popular Ecológica e Social), que se fragmentou por divergências entre a ala social-democrata e a ala radical.

Socialistas, comunistas, ecologistas e a LFI concordaram na segunda-feira em apresentar “candidaturas únicas” nas eleições previstas para 30 de junho e 7 de julho, apesar da mudança no equilíbrio de poder após as eleições europeias, com os socialistas superando a França Insubmissa.

“Pedimos a formação de uma nova frente popular que una, de forma inédita, todas as forças humanistas, sindicais, associativas e cidadãs de esquerda”, afirmou um comunicado conjunto divulgado após a reunião em Paris.

Centenas de jovens permaneceram do lado de fora do local da reunião para pressionar por um acordo.

Milhares de pessoas protestaram contra a RN nas principais cidades da França na noite de segunda-feira. Outras manifestações estão previstas para o fim de semana.

O jornal de esquerda Libération defendeu a criação de uma “Frente Popular”, apelando à “responsabilidade histórica” da esquerda para “impedir a ascensão da extrema direita ao poder”.

O resultado das eleições europeias gerou alerta na França, com o risco de avanço da extrema direita, assim como na Europa. Paris desempenha um papel fundamental na União Europeia e no apoio à Ucrânia contra a invasão da Rússia de Vladimir Putin.

A RN obteve 31,37% dos votos no domingo, muito à frente dos 14,60% do partido governista. Duas pesquisas sobre as eleições legislativas mostram a RN com 33-34% das intenções de voto. Segundo a projeção da Harris Interactive, o partido poderia conquistar entre 235 e 265 dos 577 deputados, contra cerca de 90 no atual Parlamento.

 

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